Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Friday, December 30, 2005

Encômio à deusa-balada

mistura dia e noite
manteiga no pão
pastel de palmito
cerveja em latinha
queijo provolone
cigarro pro pensamento
feijoada arroz farofa
cachaça não-planejada
um retrato 3 x 4
um cheque pré-datado
um cinzeiro fumegante
uma brecha na agenda de compromissos
um posto 24 horas
uma fogueira invisível
e terás um subuniverso aquático suscetível a teu domínio!
praza aos céus, senhora,
que as luzes se mantenham te banhando a pele com cores líquidas
que o vapor cancerígeno enxarque tuas vestes e teus cabelos, marca odorífica do espaço lotado de arsênico carbônico
que as portarias te sejam sempre francas e as comandas, fielmente preenchidas com o fomento sensorial que consumires
que as filas dos banheiros te sejam breves, e, em não o sendo, que propiciem a graça de frases de efeito, cócegas no céu-da-boca da noite
que bela e quente seja a madrugada, mandíbula agarrada a tua carne tenra
e nenhum piercing ou tatuagem te ofusque, ó nêga, e, caso isso aconteça, que seja sem ofensa ao brilho de tua presença
que drogas várias te sejam ofertadas e dêem acesso a provisórios édens
que as festas te arrastem de mesa em mesa a bairros desconhecidos flyers gigantes canudos retorcidos terremotos nos postes intempéries no asfalto altares de garrafas vazias maços deturpados cardápios revigorantes automóveis nuvens de emissões poluentes faróis reproduções de van gogh moda de almofada sucesso de sofá atenuando a solidão solidão solidão rodízios de pizza neons bizarros da rua augusta
que a pista esteja sempre envenenada quando pisares o chão de fórmica ou carpete ou cimento ou aço escovado ou mármore ou madeira
que a pista esteja sempre desinterditada para a tua sacolejante passagem
que a pista esteja sempre em condições anormais de temperatura e pressão quando rodopiares no meio do cardume humano admirado
que o som esteja sempre contigo
que a balada seja tua morada