território de fronteira entre "ensaio, memória pessoal, diário, livro de viagens e ficção narrativa" (p. 226), o romance "o mal de montano", de enrique vila-matas, apresenta como narrador-personagem um "homem-relato" (p. 70) dividido entre sua obsessão doentia pelos livros e sua luta solitária contra o "desaparecimento" da literatura no mundo atual. escrito com auto-ironia e "um estilo sem muitos personagens literários de carne e osso" (p. 156), a obra é uma coleção de frases memoráveis, das quais cito uma que me agrada especialmente: "(...) sem a memória, seria ainda mais angustiante a vida, embora talvez seja ainda mais angustiante dar-se conta de que quanto mais cresce nossa memória, mais cresce nossa morte. Porque o homem não é mais que uma máquina de recordar e de esquecer que caminha para a morte. E não digo isso com tristeza, porque também é certo que a memória, disfarçando-se de vida, converte a morte em algo sutil e tênue" (p. 294)