Profissão: turista
Confesso que durante algum tempo quis me preparar para essa profissão. Tive o melhor exemplo dentro de casa. Entre os 8 e os 12 anos de idade, percorri vários estados do Brasil acompanhando meus pais, que sempre gostaram e continuam gostando de viajar. Nessas viagens, de carro (por Pernambuco, Bahia, Paraíba, Ceará, Piauí, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Alagoas) ou de avião (para São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba), comecei a desenvolver o gosto por conhecer lugares novos, pessoas diferentes e tradições culturais diversas.
A vocação estava no sangue e, depois dos 20 anos, peguei a estrada sempre que juntava algum dinheiro: Chapada Diamantina, Recife, França. A cultura e a história de cada lugar, além da diversão, é claro, foram sempre o que mais me atraiu nessas viagens. Numa guinada da vida, acabei aceitando um emprego só pela oportunidade de morar em outra cidade. Morei três anos e meio em São Paulo, que eu já conhecia de visitas breves e me assustava tanto quanto fascinava, justamente por ser tão diferente do mundo que eu conhecia até então. Durante o tempo que passei lá, minha visão de mundo precisou se adaptar à dinâmica própria de uma metrópole mundial e ganhou uma noção ampliada de horizonte de possibilidades, tanto nos aspectos pessoais quanto nos profissionais. Acredito que esse é um dos ganhos que o turismo proporciona: uma amostra de como é a vida num lugar que não é o nosso.
Agora sou um jornalista em tempo integral, a serviço de um aeroporto internacional que tem taxas de crescimento de 20% ao ano, impulsionadas principalmente pelo turismo (fonte: Infraero). Os corredores do Aeroporto de Salvador respiram turismo, nas agências e casas de câmbio do térreo, nas lojas de artesanato e moda afro do primeiro piso, nas filas diárias dos check-ins dos vôos internacionais. Esse é um turismo que ultrapassa o Centro Histórico e Sauípe, e vai muito além, pelo interior e pela costa da Bahia. Sei de muita gente que chega pelo aeroporto e, sem nem pisar na capital, vai direto pra outras praias, ilhas, baías.
Quero finalizar esse depoimento manifestando que dedico ao Recôncavo baiano um profundo respeito, típico de um turista profissional (ou profissional do turismo) por um roteiro que ainda não conhece. É o respeito de um explorador diante de um tesouro intocado. Não vejo a hora de investigar suas reentrâncias.
(Texto para a revista "Expedição")