QUINTA JORNADA
o cordelista antonio vieira abre a semana do cordel, na biblioteca pública do estado da bahia. na palestra "no metal da fala: a complexidade de meu folheto popular", ouço atentamente a dica da professora jerusa pires ferreira (puc-sp): "para estudar e perceber a complexidade de um simples folheto de cordel, é necessário conhecer diversas matrizes culturais, como: as modalidades narrativas do cancioneiro medieval português, italiano, francês, etc.; o ritmo natural da língua portuguesa; componentes mitológicos do conto popular universal; a história imediata ou antiga do local onde o folheto foi criado, etc.".
ela diz que o título da palestra se inspira numa fala do cordelista joão martins de athayde, que declarou em entrevista à imprensa: "eu não invento nada, apenas ponho as coisas no metal da fala".
a professora edilene reaparece na cena com o curso "três autores da literatura de cordel na bahia", sobre cuíca de santo amaro, rodolfo coelho cavalcanti e minelvino francisco silva. algo que ela diz numas das aulas gruda em meu pensamento: "na literatura de cordel, a influência da escrita se dá de forma apenas parcial, porque as marcas da oralidade se afirmam".
dona edilene comenta a dificuldade que sente, como pesquisadora, em decidir por apenas uma única denominação para compreender fenômeno ou fenômenos que pode ou poderiam ser nomeados de formas tais como "literatura de folheto", "literatura de cordel", "literatura popular em verso" ou "literatura oral" - tendo enfim optado por "literatura de cordel", como suspensão provisória do problema conceitual.
a palestra hoje é sobre minelvino francisco silva, nascido em 1926, em olhos d'água de belém, no município de mundo novo, bahia. morou muito tempo em itabuna, bahia, onde, como poucos cordelistas, tinha tipografia própria. como muitos, o primeiro folheto com que teve contato foi o romance d'"o pavão misterioso" (josé camelo de melo rezende), fato ocorrido em 1939. o primeiro folheto que minelvino publicou foi "a enchente de miguel calmon e o destino do trem de água baixa" (jacobina, bahia, 1949). outros títulos de minelvino: "abc de lampião pelo próprio punho", "os sofrimentos de um bahiano no estado de são paulo", "carnaval no inferno", "a chegada de getúlio no céu", "a morte do presidente getúlio vargas".
a professora edilene insiste num mote de minelvino: "a marreta da morte é tão pesada que a pedreira da vida não aguenta".
imediatamente em seguida a isso começa a
SEXTA JORNADA (CODA):
acordamos outra vez e as notícias começam a chegar, compromissos e guerras, praia hoje a qualquer preço, mesmo o corpo sujeito a intempéries. uma placa no parque ambiental do manguezal do rio passa-vaca informa: "prefeitura trabalhando: recuperação das áreas verdes das margens do rio jaguaribe". vou para a pedra-palco no anfiteatro da areia e do mar, caminhos de pegadas, as ondas roçando a orla como unhas em pele alheia, nuvem, tu vem, passeando na partitura, no vento, tempo de convívio [a saga continua...]