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Diferentemente das outras secas, a de 1951-1953 acabou impulsionando o fluxo migratório do Nordeste em direção ao Sul, principalmente para São Paulo, Rio de Janeiro e o oeste do Paraná (...)
. A melhoria dos meios de transporte, especialmente do transporte rodoviário, facilitou a viagem em busca de uma vida melhor, longe do latifúndio, da prepotência dos coronéis e do flagelo da seca. (...)
Utilizando-se de vapores, que percorriam o rio São Francisco até Pirapora, de trens e de caminhões, centenas de milhares de nordestinos deslocaram-se para o Sul, sem nenhum apoio oficial, na maior migração da História do Brasil. (...)
A avalanche foi espontânea e surpreendeu os governos. A estrada Rio-Bahia transformou-se no maior conduto dessa migração. A cada dia, dezenas e dezenas de caminhões, transportando de setenta a noventa pessoas em média, seguiam para o Rio de Janeiro e para São Paulo - cobravam-se, em média, 500 cruzeiros pela passagem (...)
. As péssimas condições da estrada, a superlotação dos caminhões, a falta de infra-estrutura à beira da Rio-Bahia acabaram dando tinturas épicas a esse movimento migratório. (...)
a viagem durava entre oito e catorze dias (...)" (p. 170-171)
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cada sertanejo assumia para si o enfrentamento da miséria secular: em vez de se travar na região um confronto com os poderosos, a migração transplantou para o Sul (...)
a luta de classes. O sertanejo, agora como operário e participante da sociedade de massas, passava a ser um agente da História - com todas as limitações oriundas do populismo - no pólo mais dinâmico da economia capitalista brasileira" (p. 176)
(Marco Antonio Villa, "
Vida e morte no sertão - História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX")
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Vida e morte no sertão - História das secas no Nordeste nos séculos XIX e XX", de Marco Antonio Villa (Ed. Ática, 2000, 274 páginas) reconstitui décadas e décadas de agruras do povo, descaso dos governos, saques, doenças e migrações coletivas, numa reincidência que induz o historiador a constatar, ao término de sua narrativa (no ponto em que começa a gestão Figueredo): "
Os fatores de conservação transformaram o semi-árido em uma região aparentemente sem História, dada a permanência e imutabilidade dos problemas. Como se com o decorrer das décadas nada tivesse se alterado e o presente fosse um eterno passado" (p. 252).