Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Saturday, April 26, 2008

na terça-feira, 29 de abril, completam-se 28 anos da morte do diretor de cinema Alfred Hitchcock (1889-1980). em homenagem a ele, a edição de hoje do caderno "Cultural" do jornal A Tarde publicou, ilustrado por Gentil, o meu poema a seguir:

"Os pássaros"

Aos mestres Alfred Hitchcock e André Setaro
Gaivotas raivosas,
agressivas, atacaram
uma cidade indefesa
à beira da Baía.

Os animais, ensandecidos,
tomaram a paz da paisagem
na vila e no balneário,
tal ameaça ambiental.

Cada criatura aeromarítima
arremessava-se, em rápida descida,
como uma ave de rapina
que mira a presa e cai em cima.

Uma senhorita rica
teve a testa atingida
pelo golpe de um bico agudo,
que deixou feia ferida.

Outras mulheres, e crianças,
também sofreram bicadas
certeiras na cabeça,
tiveram as roupas rasgadas.

Uma nuvem de passarinhos
choveu dentro da sala,
derramando-se, chaminé
abaixo, com grande estrago.

Um velho foi encontrado
morto, onde morava,
com os dois olhos furados.
Xícaras quebradas!

Tais fatos disseminavam
transtorno, medo e desespero,
abalando a tranquilidade
daquela comunidade.

Os corvos, um por um,
vieram se empoleirar
(como um bando de morcegos)
nos brinquedos do colégio.

Os pássaros de mau presságio
(vento, fumaça ou nevoeiro),
acabaram com o sossego
daquela gente ordeira.

Corvos pretos, alvas gaivotas,
aves de várias espécies,
aparentemente nervosos.
Fenômeno inexplicável!

Suas vozes cruzavam os ares
com o som de ferragens rangentes,
apavoravam os moradores
desencadeando o suspense.

Uma gaivota desferiu
um golpe veloz e certeiro
no rosto do frentista
no posto de gasolina.

Socorro, gritou alguém do povo,
na tentativa de fuga.
O caos cobriu a rua,
sangue, pânico, fogo!

Os corvos, quem pensam que são?
O que se passa com as gaivotas?
Para que perturbam a ordem?
Por que causam confusão?

Depois de sete dias
de ofensivas sobre o lugar,
já eram muitas as vítimas,
algumas com risco de vida.

Só um par de periquitos
permanecia quieto,
imóvel, no meio do desvario,
confabulando em silêncio.

Apenas aqueles, mulher e homem,
mantinham o sangue frio
e estavam sérios e atentos
no mais louco Paraíso.

Wladimir Cazé © 2008