Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Thursday, July 03, 2008

"Casas fechadas, terras abandonadas. Agora o verdadeiro dono de tudo era o mata-pasto, que crescia desembestado entre as ruas dos cactos de palmas verdes e pendões secos, por falta de braços para a estrovenga. Onde esses braços se encontravam? Dentro do ônibus, em cima dos caminhões. Descendo. Para o sul de Alagoinhas, para o sul de Feira de Santana, para o sul da cidade da Bahia, para o sul de Itabuna e Ilhéus, para o sul de São Paulo - Paraná, para o sul de Marília, para o sul de Londrina, para o sul do Brasil. A sorte estava no sul, para onde todos iam (...)"

(Antonio Torres, "Essa terra", p. 89)


dividido em quatro partes - "Essa terra me chama", "Essa terra me enxota", "Essa terra me enlouquece" e "Essa terra me ama" - o livro do escritor baiano (lançado em 1976) "tematiza o retorno do nordestino que fracassou em São Paulo" (segundo definição de Marco Antonio Villa em "Vida e morte no sertão", p. 15). a narrativa polifônica, entrecortada, alterna as vozes do filho que migrou e retorna depois de 20 anos ("não sei se volto ou se fico. Acho que agora tanto faz. Porque o tempo que comeu o meu chapéu de palha, agora está comendo o lugar que deixei em São Paulo", p. 124), do filho que ficou, do pai e de vários outros personagens. a partir do terceiro capítulo, o romance efetivamente "enlouquece", acentuando seu caráter fragmentário e incorporando a confusão mental da mãe e a desagregação familiar à composição textual.