Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Wednesday, December 23, 2009

fragmento de um moleskine surrado

22.12.2009. Andei como um nômade indômito por uma urbe obscura, sem memória das outras urbes onde recentemente estivera, sem vínculo com lugar algum – os aeroportos quase meus lares –, num vaivém até confins a explorar novas paragens. Foram semanas levitando ao sabor do acaso, de hotel em hotel, conduzido até onde me levava o vento, tentando deter o pensamento em algum traço no papel – em vão –; minhas emoções não se exteriorizavam, um turbilhão sensorial desprovido de foco preciso; meu olhar resvalava sobre a superfície das coisas, fotografava-as sem captar sua estrutura íntima, imerso na voragem consumista que tudo nivela e anestesia. Nada me destravava as sinapses, embora o atropelo de acontecimentos me sacudisse a percepção. Mas enfim pude me instalar na ponta continental da pequena capital-ilha-aterros, desinteressado em viajar para fora dali por vários meses a fio, necessitado de recobrar fixidez.