22.12.2009. Andei como um nômade indômito por uma urbe obscura, sem memória das outras urbes onde recentemente estivera, sem vínculo com lugar algum – os aeroportos quase meus lares –, num vaivém até confins a explorar novas paragens. Foram semanas levitando ao sabor do acaso, de hotel em hotel, conduzido até onde me levava o vento, tentando deter o pensamento em algum traço no papel – em vão –; minhas emoções não se exteriorizavam, um turbilhão sensorial desprovido de foco preciso; meu olhar resvalava sobre a superfície das coisas, fotografava-as sem captar sua estrutura íntima, imerso na voragem consumista que tudo nivela e anestesia. Nada me destravava as sinapses, embora o atropelo de acontecimentos me sacudisse a percepção. Mas enfim pude me instalar na ponta continental da pequena capital-ilha-aterros, desinteressado em viajar para fora dali por vários meses a fio, necessitado de recobrar fixidez.

A filha do imperador que
foi morta em Petrolina,
por Wladimir Cazé; folheto de cordel;
Edições K, volume 1, 26 p.,
R$ 2 (com o autor); R$ 5 (pelo correio).
Ilustração: Roney George
Diagramação: Albano M. Ribeiro

