agora que se aproxima a contagem regressiva para o fim deste precioso tempo livre, é necessária uma viagem que preencha meus dias com estímulos diferentes, pois mesmo o ócio já sucumbiu a uma certa rotina, sequência de gestos mecânicos: acordar tarde, descer para o café da manhã no mercado próximo, rápida leitura do jornal "a tarde", depois praia (...), desta forma os dias foram se consumindo, entre suores e preguiça. não trabalhei furiosamente no meu novo livro, como tinha imaginado, fiz três ou quatro anotações apenas, foi o bastante, a batalha continuará ao longo do ano. daqui a dois dias irei ao rio de janeiro, depois são paulo. percebo que nas últimas semanas estive tentando deixar-me ir à deriva, sem tanto apego à rota traçada previamente, o programa de leituras frustrado. foi uma pausa no afinco com que costumo me empenhar em literatura, um intervalo que enriquecerá o momento de meu retorno à ativa com a impressão de um primeiro contato após a perda do hábito. noto isso ao redigir este diário de férias no caderno de improvisos e também ao fazer curtas anotações para o livro novo e reabrir o arquivo de computador para inserir mudanças ao texto. a desenvoltura que transmito me espanta. e não se trata de um momento especial de inspiração para escrever, pois me sinto inspirado a todo instante se parar para pensar, mesmo que só por alguns segundos, em literatura, e mesmo que não venha a escrever sequer uma linha, o que acontece, aliás, a maior parte do tempo, mas trata-se, ao contrário, de uma verve permanente, um estado de ânimo que apenas alterna períodos de exaltação com períodos de contemplação, nunca eu abandonando a pertença à palavra escrita ou falada.