Ode à cidade de Nova York em estilo coloquial
White tinha morado lá na juventude, quando era apenas um aspirante a escritor, deslumbrado com o fato de estar na mesma ilha que a poeta Dorothy Parker. Para escrever "Aqui está Nova York", deixou sua fazenda no interior do Maine, para onde se mudara em fins dos anos 30, e instalou-se durante alguns dias num quarto de hotel no centro, a 33 graus, sem ar-condicionado. Enquanto isso, andava por Manhattan, observando tudo. O leitor acompanha o autor em suas perambulações algo nostálgicas por lugares célebres, como Central Park, Broadway, Greenwich Village e a estação de metrô Grand Central (um “mafuá”, segundo White).
Ele descreve em tom saudoso as alterações ocorridas na paisagem de bairros e quarteirões que lhe eram familiares. Suas lembranças incluem personagens que tinham ido embora (Hemingway, Whitman) e ruas e prédios que não existiam mais. “A Broadway mudou num aspecto”, anota. “Costumava ter uma discernível estrutura óssea sob sua superfície brilhante; mas os luminosos são agora tão grandes que os edifícios, lojas e hotéis parecem ter desaparecido sob as luzes e letras em néon.”
Com o olhar atento para detalhes reveladores desse tipo (uma jovem italiana penteia o “longo cabelo preto-azulado”; um solo de trompete soa ao mesmo tempo que a sirene da chalupa Queen Mary), o autor compõe uma ode a Nova York em estilo coloquial. O resultado pode ser classificado como equivalente ao que no Brasil se conhece como crônica: um registro informativo e poético do cotidiano.
E. B. White (1899-1985) nasceu em Mount Vernon, no estado de Nova York, formou-se pela Universidade de Cornell e trabalhou como jornalista nas revistas Harper’s Magazine e The New Yorker. Consagrou-se como autor de livros infantis, entre eles "Stuart Little", de 1945, que foi transformado há três anos em um filme que acaba de ganhar uma seqüência.
Resenha publicada no caderno Folha da Bahia, do jornal Correio da Bahia, em 06/10/2002