aos primeiros sons de um dia novo, destruiu-se a estação da lapa. eu vi tudo de um banco de cimento da biblioteca que no quase-pesadelo existia. era um avião laranja. ele veio em direção às plataformas vazias na madrugada e desapareceu no buraco. o clarão subiu. um estrondo abafado.
pela forma como se deu a queda, as pessoas que estavam a bordo não poderiam ter sobrevivido. perplexo (como em todo sonho), mas lúcido (na medida em que um sonho o permite), tentei pensar em que atitude tomar. avisar os amigos dos jornais. acordar o chefe com a notícia. esperei que meu telefone tocasse.
a lapa é um declive, alguém falou. a gente não sabe como está esse solo, ainda mais depois das obras do metrô aí embaixo. melhor irmos embora daqui agora. de fato, vi de relance a terra se derramando e expondo as galerias da grande construção.
liga pra tua mãe e fala pra ela e teu irmão tirarem tudo que é importante do apartamento e irem embora de lá, rápido.
algo começava a se perder na cidade além das vidas daquelas pessoas que não conheci. quem seriam? de onde vinham? como estariam, fora do sonho? naquela viagem imaginada, destino e origem se confundiam, como na vida de qualquer um de nós.