Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Wednesday, November 23, 2005

[a pedidos, anotações do caderno amarelo:]

preso ao presente desde o êxodo, coisa errada oficinei nesse mundo calabouço, desterrado estúrdio; mudar é vertiginoso; virei bem de consumo jogado na economia de mercado, valor tortuosamente extraído de uma profissão, no osso da cifra, na safra, na caça, vivendo à beira do mal, rastejando no caos, baixando olhar de cão para a pele metálica da sociedade; o dia se dilui indecifrável, precisando festa irrefreável; bebam, eu assisto; boa noite, garotas que não conheço ainda, vejo luminescências no ar, encosto a cabeça no chão, ela pesa nas têmporas; ciranda eu vou tirar em cortesia; dedico este brinde à guria gótica baixinha invocada, prosélita do exército vermelho; o corredor escurece, fecho os olhos; coração pulverizado; é intermitente o trâmite dos sentidos.

Monday, November 21, 2005

o anjo de jah apareceu no anganhabaú, fez o delivery e sumiu. a chuva ñ atrapalhou, fiquei debaixo de uma marquise olhando o bolo de gente dançar chorinho, foi engraçado. depois achei um boteco legalize com jukebox de samba, estive nele por cerca de meia hora.

Thursday, November 17, 2005



o romance "conversa na catedral", de mario vargas llosa, monta um painel social e político da sociedade peruana nas décadas de 1940 e 1950, especialmente da capital lima (com seus bares, puteiros e redações de jornal), por meio do encontro casual entre um jovem burguês e o ex-motorista de seu pai e de um texto estruturalmente fragmentário, que, sem abandonar a clareza narrativa, se faz repleto de tramas paralelas, avanços e recuos no fluxo temporal e uma polifonia de vozes dialogantes e monologantes

Monday, November 14, 2005



há um ano faço download de mp3 sem me preocupar com back-up e agora o computador ñ tem mais espaço livre em disco; faz-se necessária uma pausa para a digestão... fiquei lembrando de quando a febre começou e ressuscitei este texto, que saiu num jornal baiano em março de 2000

Sunday, November 13, 2005

uma garrafa de vidro inesperada explode a meus pés. a turma troglodita ondula se animando quando a música passa a pulsar em espamos harmônicos, os bicos dos sapatos da gnomo dentuça começam a deslizar randomicamente no chão de fórmica pastoso de poças de cerveja e poeira misturadas, o dono da garagem acende uma lâmpada encostada a um amplificador, o recinto inteiro se altera, salta de súbito da penumbra-estrofe para a claridade-refrão, e então os vocais da gravação se calam e o instrumental incendiado pelo solo de guitarra varre o salão como um arrepio, a brasa do cigarro de alguém fura minha calça mais uma vez,