Wednesday, August 31, 2005
Monday, August 22, 2005
De João Pessoa, na Paraíba, Mestre Esmeraldo comanda o projeto musical Chico Correa & Electronic Band, aponta uma trilha saliente na paisagem sônica brasileira e funde referências sertânico-agrestes a aspirações globo-locais. O trabalho da banda impressiona pela liberdade com que seus músicos encontram parentescos entre gêneros tão diversos quanto rock, funk, bossa nova, baião, samba de coco, jazz, jungle, trip hop, dub e outros.
A banda ganhou visibilidade em 2003, no Festival Abril Pro Rock (Recife/PE) e no TIM Festival (Rio de Janeiro/RJ). Desde 2002, teve diversas formações, capitaneada por Chico Correa (guitarra, programação eletrônica, efeitos digitais) e consolidada a partir de 2004, com Ed (contrabaixo), Larissa Montenegro (vocais), J. Cassiano (percussão), Vitor Ramalho (bateria e percussão) e Stephan Suíço (sax).
Chico Correa narra os primórdios:
- "A idéia era simples, eu e computador, só loop e groove, só love. Depois da entrada dos músicos e da cantora, acabou mudando prum lance ambient-regional. Eu gravava em MD: dava play e tocávamos por cima. Hoje usamos samples, groove-box e metrônomo pro baterista, há mais possibilidades de combinar e recriar ao vivo."
No disco a ser lançado ainda no segundo semestre de 2005, as duas tendências se equilibram. Os ritmos vão do berimbau-jungle cru e instigado de "Afrotech" ao agrestewerk cangaço-gangsta de "Côco de elevador" e o baião-de-viola sincopado de "Esperando o dia passar". O eletrofunk é a praia em que transita "Eu pisei na pedra", enquanto "Mangangá" junta rock e maracatu, mas com uma fórmula diferente da usada pelo mangue-beat. Outras pistas: "Bossinha", "Baião lo-fi"... A fauna humana local é representada por "Lelê" (toada de saudade interestelar), "Zabé" (tecno-embolada) e "Odete" (drum'n'roots).
Ao vivo, o grupo atua como um live-PA: Chico manipula a parafernália eletrônica e conduz a guitarra, a graciosa voz de Larrisa dispara glissandos mouriscos e o quarteto de jazzistas galopa faixas de áudio que sincronizam o tradicional samba-de-coco-de-engenho paraibano com células de step-funked breakbeat.
Parece noite de drumba-meu-boi: arrasta-scratches, schottische-scratches e xaxado remixado sacudindo retro-retirantes e alto-falantes induzindo à dança o homem-gabiru, genuinamente ao "som do demônio", no sentido de uma mistura de música de black magic com demonstration tape, xangô de batuque e gene de drum machine.
No meio dessa encruzilhada de ruídos, versos de domínio publico:
- "Olê, olá, o coquista está aqui."
Ou:
- "Serena, serená,
serená do amor,
nos braços de quem me ama
morro, mas num sinto a dor."
Ou:
- "Eu pisei na pedra,
a pedra tremeu,
a água tem veneno,
oi morena,
quem bebeu, morreu."
Chico desde 1999 produz esse sons. Ele foi pesquisador do Laboratório de Estudos da Oralidade (Universidade Federal da Paraíba) e colabora no grupo paraibano Jaguaribe Carne ("Vem no vento", 2003) e na comunidade transregional Re:combo. "Toquei com Eleonora Falcone durante um ano, eletrônica sutil com tango, MPB, bossa e coco, fiz shows com Lado 2 Estereo e Gilberto Monte (da banda baiana Tara Code)", martela o músico. Em 2005, Chico Correa & Electronic Band se apresentou várias vezes em São Paulo e passou também por Salvador/BA, Belém/PA e Brasília/DF.
Que venham mais shows, e que a eles venham caranguejos, caipiras, caiçaras, sertanejos, cangaceiros urbanos, ciber-sacizeiros, clubbers caboclos. Chico Correa & Electronic Band é a música nômade nordestina desta década, a "viver de porta em porta, com a mochila na mão".
Friday, August 19, 2005
Thursday, August 18, 2005
manual do fantasma amador (benvenutti, edicões K, 2005) é uma crítica política ao mundo globalizado, em uma forma de prosa poética que satiriza os best-sellers de auto-ajuda. inquietante, especialmente num momento em que fantasmas profissionais se mostram tão presentes no cotidiano do país.
Tuesday, August 16, 2005
já conhecia, por mp3, o "auto da catingueira", de elomar figueira de mello, mas só agora tive acesso ao encarte do álbum-duplo, libreto de uma peça lítero-musical densa de subtextos imersos em trama simples (numa feira, dois cantadores disputam o amor da pastora Dassanta), recolhida na tradição oral e popular da região do rio do gavião, sudoeste do estado da bahia
outros livros frequentados durante as férias: "cavernas & concubinas" (cardoso), "contos negreiros" (marcelino freire), "ainda lembro" (jean wyllys), "de tardinha meio azul" (karina rabinovitz), "o rei degolado - ao sol da onça caetana" (suassuna), "no soy más que una piedra calentándose al sol" (maría laura rojas) e "manual do fantasma amador" (benvenutti), o último dos quais indiquei para a seção "Estou lendo", da revista do Correio das Artes, do jornal A União (joão pessoa, paraíba)
minitur microafetos 2005 agradece a Nadja Vladi, Ceci Alves, Iansã Negrão, Goli Guerreiro, Mayrant Gallo, Patrick Brock, Sérgio de Sá, Astier Bastílio, Isabela Larangeira, Antonio Mariano, Chico Correa, Linaldo Guedes, Valdélio (Boratcho), Bob Zaccara, Sesc Petrolina, Luciano Matos, Nina Luz, Verena Petitinga (pela trilha sonora), William Costa, Carlos Aranha, às famílias Cazé de Andrade e Viana dos Santos e a todo mundo que comprou o livro