(Antônio Torres, em “Os homens dos pés redondos”, 3ª. Edição, 1999, p. 168)
A ação do romance “Os homens dos pés redondos” (1973), de Antônio Torres, se passa num país imaginário chamado Ibéria, que tem semelhanças tanto com o Brasil do período militar quanto com o Portugal tardiamente sob regime filo-fascista do começo dos anos 70 (às voltas com as guerrilhas por independência em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique). O autor cruza referências e vocabulário lusos (“tasca”, “gajo”) e brasileiros (“meu chapa”, “aipim cozido, cuscuz e canjica”) para criar um espaço ficcional híbrido. “Paname”, nome da “louvada e gloriosa” (p. 132), “efervescente e cortejada” (p. 136) capital de Ibéria, parece aludir à idéia de uma “Panamérica” (e, talvez, ao título do romance de José Agrippino de Paula lançado seis anos antes). Os personagens centrais de “Os homens dos pés redondos” são apresentados conforme sua posição hierárquica na “firma Fernandes & Fernandes, Negócios Bancários”, gradualmente, desde o nível inferior até o mais alto – primeiro o funcionário subalterno Manuel Soares de Jesus, depois seu chefe, o escritor Adelino Alves, e por fim o banqueiro e industrial Fernandes (todos os três de algum modo relacionados com um quarto personagem, o publicitário Estrangeiro, que transita pelos diversos ambientes da história sem pertencer a nenhum deles). A história progride de maneira caleidoscópica, com uma sucessão de trechos de discurso interior (manifestando os pontos de vista de uma galeria de personagens, inclusive de figuras secundárias), diálogos dinâmicos e relatos onírico-alucinatórios.