Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Monday, March 31, 2008

lançado há poucas semanas, "para colorir" reúne crônicas de ricardo cury, baterista (desde 1994) de inúmeras bandas baianas. "nem de longe uma autobiografia", conforme o autor observa no "prólogo", a organização dos "textos em uma determinada ordem (...) acabou fazendo com que o livro ficasse parecido, e apenas parecido, com um romance" (p. 12) bem-humorado sobre o cotidiano cultural de salvador (futebol, carnaval) e sobre o dilema de seguir uma profissão convencional ou viver de rock na terra do axé - entre capítulos que contam viagens ao vale do capão (chapada diamantina), à europa, a países do mercosul (chile e argentina) e a são paulo.


"seis passeios por cidade de deus" (universidade estadual de feira de santana, 2007) reúne artigos curtos sobre diversos aspectos dos dois "cidade de deus" (o livro e o filme), particularmente a passagem da "dialética da malandragem" (apud antonio cândido e roberto da matta) para a "dialética da marginalidade" (apud joão cezar de castro rocha). a professora patricia cerqueira escreve sobre os "assaltos literários de paulo lins", ou seja, as reapropriações textuais - assumidas pelo autor do romance "cidade de deus" numa entrevista de agosto de 1997 - de trechos de obras de dostoiévski, josé lins do rego e carlito azevedo. o livreto inclui uma entrevista com o crítico de cinema ismail xavier ("convergências cinema e literatura").

Monday, March 24, 2008

trechos do caderno "van gogh"

23.2.2008.
(...) já sobrevoamos o oceano, agora o continente. as águas de um rio barrento arreganham garras vermelhas, cravadas na terra verde. uma cidade (qual?) ocupa as duas margens de um outro rio e a ilhota entre elas, totalmente urbanizada. (...)

24.2.2008.
(...) de outras vindas ao rio, explorei copacabana, niterói, ipanema e santa teresa. a lapa é o ponto de partida agora. domingo de ruas vazias no centro sujo e pobre, durante meu tradicional passeio sozinho. (...) toda viagem é pontuada por coletas, ao final do trajeto rastros congelados em objetos: fotografias, folhetos, livros, recortes de jornal. suei sob o ar abafado, pés cansados do giro a esmo. carioca, cinelândia... (...)

25.2.2008.
no gabinete portuguez, localizo uma "antologia de páginas íntimas" de kafka (seleção, prefácio e tradução de alfredo margarido, guimarães editores, 1961, lisboa, rua do diário de notícias, 61), com trechos dos diários de 1910 a 1923. copio sempre as anotações em que kafka reclama de como escrever é difícil: "nem uma palavra, quando escrevo, se conjuga com outra, ouço as consoantes chocarem-se, soando ocas" (1910, p. 38), "um conhecimento de nós só poderia ser definitivamente fixado por notas se tal pudesse fazer-se com a maior integridade, até nas menores consequências, ao mesmo tempo que com a mais inteira veracidade. isso não se faz de modo algum - e sou em todo o caso incapaz -, então, o que se anotou substitui, intencionalmente e com toda a força do que é fixado, o sentimento puramente geral, tanto e tão bem que o justo desaparece, enquanto se reconhece demasiado tarde a não-valia do que se anotou" (1911, p. 45), "tenho a crença infeliz de que não disponho de tempo para realizar o menor trabalho válido, porque, para escrever uma história, não tenho verdadeiramente tempo de me dispersar em todas as direções, como seria necessário. de novo sou levado a crer que a minha viagem poderia efectuar-se melhor e que saberia apreender melhor as coisas se me libertasse, escrevendo um pouco e é por isso que tento novamente" (1911, p. 56), "tudo está preparado em mim para um grande trabalho poético e (...) semelhante trabalho seria para mim uma divina solução e um autêntica entrada na vida, enquanto aqui no escritório devo, em nome de uma miserável papelada, arrancar um pedaço de carne a este corpo" (1911, p. 65), "carne crua" (p. 65), "carne cortada em mim (tanto esforço me custou encontrá-la)" (p. 65). a "carne" a que kafka se refere na última citação é a palavra, não a palavra poética, mas o jargão jurídico usado profissionalmente como funcionário da companhia de seguros. (...) no salão de leitura da biblioteca nacional (...) trouxeram-me "diário de viagem" (kafka, traduzido do alemão por marcelo rouanet, organização, prefácio e notas por cecília prada, ed. atalanta, são paulo, 1998), livro que eu não conhecia, e, também novo para mim, "diários" (tradução de torrieri guimarães, ed. itatiaia, belo horizonte), seleção de trechos diversa da que encontrei pela manhã. comecei a ler este último, a partir de 1912. às vezes, kafka parece entusiasmar-se com sua produção e reconciliar-se com a escrita, como quando relata o processo criativo do conto "o veredito": "todas as coisas podem ser ditas, todas as idéias que chegam ao espírito, por mais abstrusas que sejam, são aguardadas por um enorme fogo onde sucumbem e ressuscitam" (1912, ps. 91 e 92 da tradução de torrieri). em outro momento, "minha capacidade de escrever perde-se" (sem data, p. 166 da tradução de torrieri), anota kafka. outros tópicos que também poderiam ser pesquisados em seus diários: a solidão, a tensão entre o trabalho no escritório e o trabalho literário. as edições em português que até agora encontrei são seletas dos diários completos, não contém o texto integral que achei em alemão (ICBA, salvador) e em francês (gabinete portuguez, rio).

26.2.2008.
encontrei ainda "o diário íntimo de kafka - único e exclusivo" (tradução de oswaldo da purificação, nova época editorial, sem data), no instituto goethe (rua do passeio), também uma coletânea de passagens do diário, com a curiosidade de que elas vêm sem ano (exemplo: "domingo, 19 de julho"). esta biblioteca tem todas as versões dos diários de kafka já citadas, sendo que a "antologia de páginas íntimas" em reedição de 1997. (...) a história de minha perseguição aos escritos pessoais de kafka continua na biblioteca rodolfo garcia, da academia brasileira de letras (avenida presidente wilson, 231), onde se encontra "franz kafka en testimonios personales y documentos gráficos", de klaus wagenbach (alianza editorial, madrid, 1970), biografia curta, com fotos, sem grandes atrativos. (...)

27.2.2008.
o diário de leituras avança, plenamente instalado no cotidiano literário que criei aqui no rio de janeiro. o aspirador de pó do gabinete portuguez agride o ambiente, pára de fazer ruído, recomeça a zunir, quebra minha introspecção. "e a gente não tem outro remédio senão gastar as horas a fabricar esta prosa travada, mais circunlóquio menos circunlóquio, esta prosa perra e oca" (miguel torga, diário, I, 1932). fui atrás de outras traduções para os trechos dos diários de kafka copiados dois dias atrás: "nem uma palavra, à medida que eu escrevo, conjuga-se com outra, escuto consoantes que se chocam, soando ocas" (1910, p. 28 da tradução de torrieri), "um conhecimento de nós próprios apenas poderia ser definitivamente fixado através de notas se isso se pudesse fazer com a maior lisura, mesmo nas mais ínfimas consequências, do mesmo modo que com a mais completa veracidade. isso não é feito de maneira alguma - e sou de qualquer modo incapaz - então, aquilo que se anotou, substitui, com intenção e com toda a força do que é fixado, o sentimento puramente geral, tanto e tão perfeitamente que o sentimento exato deixa de existir, enquanto se reconhece muito tarde a não validade daquilo que se deixou anotado" (1911, p. 37, id.), "o sentimento aterrorizador de que tudo está preparado em mim para um enorme trabalho poético e de que tal labor seria para o meu caso uma solução divina e uma verdadeira entrada na vida, ao passo que aqui no escritório devo, em nome de uma ínfima papelada, cortar um pedaço de carne a este corpo" (1911, p. 54, id.), "tenho a desgraçada intuição de que não disponho de tempo para concluir o menor trabalho válido, pois, para redigir uma história, não tenho realmente tempo de me dispersar em todas as direções, como necessitaria. outra vez sou induzido a acreditar que a minha viagem poderia realizar-se melhor e que aprenderia a compreender melhor as coisas se me libertasse escrevendo algo e é por esse motivo que eu tento outra vez" (1911, p. 46, id.).

29.2.2008.
sigo sempre meio à margem, no anonimato, nômade, fingindo-me invisível para não ser notado. capturo uma definição para os diários de leitura dos diários de kafka: "kafka 'antecipou' tanto o modo quanto as principais consequências dessas irrupções ['bruscas irrupções do acaso na vida cotidiana'] que dilaceram as ilusões de segurança manipulada, plasmando assim (...) o modo pelo qual a vida humana, em particular aquela do homem comum, é afetada pelas novas características da alienação capitalista" (carlos nelson coutinho, "lúkács, proust e kafka - literatura e sociedade no século XX", civilização brasileira, 2005, p. 154).

Tuesday, March 18, 2008

Boa noite, meus ouvintes!
Nós somos o grupo Corte!
Viemos mostrar nossos livros
e arriscar a nossa sorte!
Eu garanto que são bons!
Também fazemos um som!
Música e letra é nosso forte!

Katherine contribui
com sua musicalidade!
Vocês vão ouvir histórias
do Gustavo e do Trindade!
Sandro vai ler poesias!
Agradeço ao Messias
pela oportunidade!

"O amor é uma coisa feia",
está escrito aqui na capa!
De onde veio essa idéia? -
Pergunto a meu camarada!
Responda rápido, Gustavo!
O público já está bravo
e achando essa frase errada!

"Corações e serpentinas"
pintam nos contos do Lima!
Quadrinhos, cultura pop!
É mais ou menos esse o clima...
Peçam os seus autógrafos!
Preparem-se, fotógrafos!
Conheçam a obra-prima!

Este é "Trabalhos do corpo",
poemas de Sandro Ornellas,
variações e derivas
da vida e suas mazelas!
Aqui no pátio do ICBA,
o Remix-se ficou bala
e a festa está bela!

[versos de circunstância que recitei no evento de estréia do grupo Corte (Cazé, Ornellas, Rios, Trindade), sábado passado, no Pátio do ICBA, em Salvador. li também um trecho curto escrito no fim do ano passado. foi legal.]

Friday, March 14, 2008

semana que vem, pegarei a estrada para participar do "Panorama da Literatura Baiana Contemporânea", com os escritores Lupeu Lacerda, Sandro Ornellas, Gustavo Rios, Lima Trindade, Mayrant Gallo, José Inácio Vieira de Melo e Renata Belmonte. O evento - promovido pelo Departamento de Letras e Artes/Núcleo de Leitura, da UEFS, e pela equipe do blog-revista "Entre Aspas" - tem o objetivo de promover o encontro entre escritores e público para gerar um debate sobre os novos rumos da literatura na Bahia.

SERVIÇO
:

O que: "Panorama da Literatura Baiana Contemporânea"
Quando: 19 de Março de 2008 (quarta), das 8h às 18h
Local: Anfiteatro – módulo II (UEFS)

(clique na imagem para ver ampliar)

Thursday, March 06, 2008

RECITAL DE LITERATURA E ROCK'N'ROLL

Escritores baianos da nova geração farão uma leitura de trechos de seus livros no sábado, 15 de março, às 18h, no pátio do ICBA (Instituto Goethe, Avenida Corredor da Vitória, 1.809). São eles o poeta Sandro Ornellas, com "Trabalhos do corpo e outros poemas físicos" (2007), e os contistas Gustavo Rios, com "O amor é um coisa feia" (Sette Letras, 2007) e Lima Trindade, com "Corações blues e serpentinas" (Arte Paubrasil, 2007). Os livros estarão à venda na ocasião.
"Esses três livros foram lançados em 2007, em datas separadas, sempre nas manhãs de sábado, numa livraria do centro de Salvador", diz Lima Trindade. "Quando percebemos a afinidade que existe entre nossos trabalhos, tivemos a idéia de fazer um relançamento conjunto, em outro local e outro horário, como uma forma de nos aproximarmos de um público diferente, ligado em cultura pop e comportamento jovem."
Além de Ornellas, Rios e Trindade, participam do recital no ICBA os escritores e jornalistas Katherine Funke (que fará a trilha sonora do recital tocando guitarra elétrica) e Wladimir Cazé (que lerá trechos de um livro que está escrevendo).
O recém-formado grupo literário Corte (Cazé, Ornellas, Rios e Trindade) produz poesia e prosa sob influência de música popular, quadrinhos, cinema e clássicos da literatura mundial. "O nome 'Corte' é uma sigla com as iniciais dos nossos sobrenomes, em ordem alfabética", explica Cazé, de acordo com quem a letra "e" ao final do nome representa a participação de um escritor convidado a cada novo evento do Corte.
Nos livros dos autores do Corte, encontra-se principalmente a vontade de ser realmente livre para escrever e viver. Nas suas obras, estilo de escrita e estilo de vida se confundem (à maneira dos beatniks). O Corte anuncia outros eventos promocionais de suas obras em Feira de Santana (19 de março, auditório da UEFS, durante todo o dia, com a presença dos escritores Mayrant Gallo, Renata Belmonte, José Inácio Vieira de Melo e Lupeu Lacerda) e em Porto Alegre/RS (de 27 a 29 de março, durante a Festipoa Literária).

SERVIÇO:

Quem: Corte
O que: Recital de literatura e rock
Onde: pátio do ICBA, Avenida Corredor da Vitória
Quando: sábado, 15 de março, às 18h
Preço: Entrada franca

Tuesday, March 04, 2008

literatura e rock'n'roll

vou participar do evento abaixo, apareçam:

(clique na imagem para ver ampliar)