Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Tuesday, June 30, 2009

A vanguarda ficou diante do silêncio e do vazio. (...) os que não silenciaram passaram a se mover num campo que já não é o da vanguarda. Por um motivo simples: hoje, é difícil dizer não só onde está a linha dianteira, mas também saber: dianteira do quê? As coisas se pulverizaram. Para que exista vanguarda, é preciso que haja um espaço cultural ordenado, balizado com nitidez. Mas hoje nós estamos vivendo num mundo culturalmente desordenado, descentrado, múltiplo. (...) A própria proliferação de linguagens e meios impede a cristalização de propostas num projeto único. O que fica, então, para nós, não é a vanguarda. O que pode e deve ficar é o seu legado central: a liberdade da linguagem, o cultivo de uma inquietude essencial e a disposição para a criação permanente do novo.

(Antonio Risério, em entrevista publicada no livro “Antonio Risério”, coleção Encontros, Azougue, 2009, ps. 176-177)

em 13 entrevistas publicadas nas décadas de 80, 90 e 00 na imprensa (em revistas e diários baianos, paulistas e paranaenses), mas também em livro, suplementadas por uma conversa coletiva, com oito interlocutores (registrada em 2008 especialmente para o volume), o poeta, antropólogo e ensaísta Antonio Risério fala sobre cultura baiana e brasileira (com ênfase na idéia de mestiçagem), contracultura, poesia “em contexto digital” e muitos outros assuntos, em particular o racialismo neonegro (e a excessiva e demagógica reverência do Estado a discursos e programas político-acadêmicos com esse teor). O trecho acima (da entrevista de 2008) – apesar de não propriamente refletir a diversidade de ângulos e as agudas análises dos mais variados tópicos que Risério elabora em suas respostas, nem sua peculiar trajetória intelectual (que transparece na disposição cronológica das entrevistas do livro, característica da coleção Encontros) – está destacado neste blog por condensar uma posição sobre a atualidade das vanguardas com a qual manifesto alguma concordância. Adiciono aqui a hipótese de que a citada “disposição para a criação permanente do novo” seja hoje uma postura transversal, que, estimulada por conceitos e procedimentos das tradições de vanguarda do século 20 e favorecida pela “proliferação de linguagens e meios”, atravessa a multiplicidade de segmentos culturais que convivem no ambiente global e conforma zonas de interseção entre esses segmentos e criações imaginárias híbridas, resultantes de investigações e programas que, em alguns casos, ainda caberia classificar como de vanguarda.

texto republicado no blog da editora Azougue

Monday, June 22, 2009

"O melhor da festa" (Nova Roma, 2009)

O livro "O melhor da festa" (Nova Roma, 2009, 134 p.), organizado por Fernando Ramos, é uma amostragem da atual produção literária no Rio Grande do Sul, contendo contos, microcontos, poemas, crônicas e artigos de 33 escritores gaúchos de opções estéticas bastante diversificadas. O critério de seleção dos autores foi a presença de todos na 1ª FestiPoa Literária, em março de 2008, em Porto Alegre - o que explica três ilustres exceções no volume: os "transnordestinos" Marcelino Freire, Lima Trindade (brasiliense radicado em Salvador) e Sandro Ornellas (outro brasiliense radicado em Salvador, atualmente em temporada carioca), que participaram do evento como convidados de fora.

No interessante artigo "Crítica literária (e jornalismo cultural)", em que discute as condições para o exercício da crítica no Brasil de hoje, Luís Augusto Fischer caracteriza o Rio Grande do Sul, ao lado de Pernambuco e em comparação com os centros hegemônicos (Rio de Janeiro e São Paulo), como uma província "com vida relativamente autônoma, com lastro local reconhecível", cuja "identidade local (...) reativa a um nacionalismo frustrado, é fortemente recalcada e por isso mesmo fortíssima" (p. 64).

No âmbito da literatura, o estado capitaneado por Porto Alegre é sem dúvida um dos circuitos mais bem estruturados do país, com personalidade própria e atividade intensa. Tomado como possível exemplo desse fato, "O melhor da festa" tem sua força fundamentada não na qualidade ou no brilho individual de cada um dos textos, mas na vitalidade do conjunto, que, embora seja oscilante como em qualquer coletânea, se mantém constante ao longo do livro.

Cinismo, hedonismo e individualismo, marcas da literatura nascida em contextos urbanos contemporâneos, desfilam com ironia em dois dos contos mais bem resolvidos do volume, "Os dez mandamentos", de Flávio Ilha, e "Serão", de Luís Dill. No segundo texto, a situação relatada poderia se referir a qualquer grande cidade, mas é mesmo Porto Alegre (sutilmente reconhecível em palavras como "vila" e "churrasco") que é retratada como cenário de um cotidiano sombrio, propenso à violência gratuita.

A modernidade da capital gaúcha também é capturada, em "O melhor da festa", por textos tributários às vertentes literárias pop (em momentos maneiristas e pouco inspirados, assinados por Reginaldo Pujol Filho e Sidnei Schneider) e junkie (Marcelo Benvenutti). Na dimensão oposta, um certo ar interiorano e nostálgico comparece em contos como "Mijo bento", de Alexandre Florez, e "Nonoai", de Leandro Malósi Dóro.

Essas dimensões distintas são de certo modo combinadas, com efeito dramático, em "A caixa", de Pedro Gonzaga, o conto mais bem construído da coletânea. Aqui o retorno do narrador à casa de veraneio de sua infância se dá em meio a um suspense e a uma pulsão erótica que tornam a história irresistível. A aparição de um gambá (ao mesmo tempo singelo e ameaçador), no momento culminante da trama, prepara de maneira precisa a frustração final do personagem.

Entre os poetas, Everton Behenck se destaca com o poema sem título das páginas 35 e 36, que se ocupa "do que há embaixo / da pele", do "subcutâneo", "do que é submerso" e "não chega à tona". Eis um autor que utiliza com propriedade o verso curto (recurso tão banalizado na poesia de nossos tempos).

Estas são apenas algumas anotações breves sobre o livro, no intuito de convidar o leitor a curtir "O melhor da festa". A companhia é boa e a farra é certa.

texto publicado na revista eletrônica de cultura e literatura Verbo 21

Wednesday, June 17, 2009

Em agosto

Falta um mês e meio, mas já adianto que no dia 3 de agosto participarei do "I Encontro Literário da UEFS: (Re)leituras contemporâneas", no Anfiteatro – Módulo II da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

Na mesa que tem por título "A palavra e o corpo: a literatura como performance" (das 16h às 17h30), estarei ao lado dos caros Adelice Souza, Dênisson Padilha Filho, Gustavo Rios e Katherine Funke. Ao final do evento, eu, Gustavo e Katherine faremos um quase-recital com nossos textos e música.

Mais informações no site da UEFS.





Tuesday, June 09, 2009

"Indústria da seca": WC + Pastel de Miolos



"INDÚSTRIA DA SECA"
Textos: Wladimir Cazé (trecho do cordel "A filha do Imperador que foi morta em Petrolina" e de prosoema inédito)
Música: "Indústria da seca" (Pastel de Miolos)
Guitarra: Allisson Lima
Baixo: Alex Costa
Bateria: Wilson Santana
Filmado na Midialouca, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, 30 de maio de 2009

Tuesday, June 02, 2009

Comparsas em ação: Sandro Ornellas + Lima Trindade + Pastel de Miolos

Confira 2 vídeos do 2º Rockcital Corte + Pastel de Miolos, ocorrido no sábado passado. Temos fotos aqui + ali. (Claudinho também filmou tudo, com melhor qualidade; logo divulgaremos esse material). Em breve, deve rolar outra sessão de literatura + rock. Fique atento.




"ESPERAR SENTADO/ALGUMA COISA"
Poema: Sandro Ornellas ("Alguma coisa", do blog Simulador de Vôo)
Música: "Esperar sentado" (Pastel de Miolos)
Guitarra: Allisson Lima
Baixo: Alex Costa
Bateria: Wilson Santana
Filmado na Midialouca, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, 30 de maio de 2009




"QUEEN SALLY II"
Conto: Lima Trindade ("Queen Sally II", fragmento do livro "Corações blues e serpentinas", 2007)
Música: "Opressão" (Pastel de Miolos)
Guitarra: Allisson Lima
Baixo: Alex Costa
Bateria: Wilson Santana
Filmado na Midialouca, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, 30 de maio de 2009