Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Friday, September 25, 2009

ROCKCITAL NA TV

Vídeo da TVE-Bahia sobre o rockcital Corte + Pastel de Miolos + Kátia Borges + Leonardo Panço, no dia 5 de setembro de 2009, na loja Midialouca (Rio Vermelho).



Reportagem: Carol Vieira
Narração: Zeca de Souza
Imagens: Rhamidfan Cardoso
Edição: Denise Dias / Carol Ribeiro
Com: Corte, Pastel de Miolos, Lima Barreto, Kátia Borges, Leonardo Panço
Duração: 3'04''
O espaço é uma espécie de material opaco que Hitchcock sabe entalhar, aparar e recortar.” (p. 84)

As gaivotas e os corvos tomam Melanie de assalto como uma ventania, em ondulações de som.” (p. 102)

(Camille Paglia, “Os pássaros”, Rocco, 1999, tradução de Jussara Simões)



No ensaio “Os pássaros”, Camille Paglia esmiuça as complicadas filmagens e a construção narrativa e estética do longametragem de Alfred Hitchcock de 1963 (um “poema apocalíptico”, na definição de Fellini), traçando paralelos temáticos com outras obras do diretor (e da cinematografia ocidental) e detectando as principais linhas de força que sustentam seu enredo: o caráter violento e destruidor da natureza; a tensão sexual provocada pelo advento de uma mulher emancipada num lugarejo conservador. Recorrendo a observações de outros estudiosos do filme, Paglia faz conexões entre seus elementos, às vezes pertinentes e inesperadas, às vezes inconvincentes. “Os pássaros”: a suspensão ficcional de um fato científico (aves de espécies diferentes não voam em um mesmo bando) se evidencia como o núcleo ativador da história (numa cena, “andorinhas, tentilhões e trigueirões”; em outra, “gaivotas, gralhas e corvos”), enquanto a câmera, orientada pela “mente (...) estritamente visual” de Hitchcock, capta as várias situações que derivam desse ponto de partida e se sucedem com “naturalismo documental” – procedimento que é, Paglia acrescenta, “a primeira condição necessária do Surrealismo” (p. 15).

Thursday, September 10, 2009

Os contos de Lima Trindade

Uma placa enferrujada informa o ano e o tombamento como patrimônio histórico nacional; o que não ameniza o fedor dos dejetos vindo de dentro (...); não impede a invasão de vagabundos e viciados; não recompõe os destinos ali naufragados, não esclarece o legado de cada fantasma (...); não elucida o presente; não oferece garantias de futuro.

(Lima Trindade, “Todo sol mais o Espírito Santo”, Ateliê Editorial, 2005, p. 55)

Todo sol mais o Espírito Santo” (Ateliê, 2005) e “Corações blues e serpentinas” (Arte Paubrasil, 2007) são os dois livros de contos publicados por Lima Trindade (Brasília/DF, 1966) até o momento. Em ambos, o desejo se revela a principal força catalisadora das histórias, desejo sexual, na grande maioria delas, mas também desejo de conhecimento – “Onde Monteiro Lobato errou?”, do primeiro livro; ou de fama e sucesso – “O pecado de Santa Helena”, também de “Todo sol...”; ou de inscrição do sujeito no tempo e no espaço – “O Velho Cão do Cerrado”, de “Corações blues...”: “Salvador ainda é a mesma ao seu redor (...), o Cine Glauber Rocha fechado, o prédio decadente d’A Tarde” (p. 135). Lima Trindade é um autor cioso do que em seus personagens é força, culpa, frustração, afeto, esperança, desencontro, desamparo, vergonha, graça. Alguns dos 28 textos (são 13 no primeiro livro e 15 no segundo) se estruturam com retalhos de uma prosa desenvolta, que se dedica a reler a infância (“Onde Monteiro Lobato errou?”), a adolescência (“Leponex”, conto de “Corações blues...” calcado em histórias em quadrinhos e canções pop), a primeira adultidade (as derivas filosóficas da quasenovela “Todo sol mais o Espírito Santo”) e os revisionismos da maturidade (“Noite num hotel da Asa Norte”, de “Corações blues...”). Outros textos, ao contrário, são curtas capturas de instantes psicológicos de um indivíduo que se alterna entre desajuste e sintonia com o mundo ao redor (“O balão amarelo” e “A primeira vez”, ambos de “Corações blues...”). Outros, ainda, pequenos dramas urbanos com ressonâncias sociais – nas narrativas ambientadas em Salvador (“Trinta e um do doze”, no primeiro livro; “Praça da Liberdade” e “Queen Sally II”, no segundo) – ou crônicas com inflexões pop – nas histórias que têm por cenário Brasília (“Conto gótico” e “O anjo loiro no bar”, ambas de “Todo sol...”) e São Paulo (“Calças de pintor”, no primeiro livro, e “Três movimentos para um selvagem desamor”, no segundo) –, quando não planos ficcionais de plena fantasia – as ruas “rigorosamente iguais”, de “terra acinzentada batida” e “casas todas de alvenaria”, do conto (algo cortazariano) “Fim de linha”, do livro “Todo sol...” (p. 88). O alcance da imaginação de Lima Trindade ganha maior evidência em “Mais uma vez”, de “Corações blues...” (espécie de desdobramento de “A primeira vez”, do mesmo livro), conto que hibridiza épocas e lugares e funde ficção e confissão, no relato do iminente reencontro de um antigo “cavalariço” com seu “senhor”, após longa separação: “eu cantarolava baixinho, (...) no tempo em que ainda não havia CD, Idade Média ainda. (...) hoje, passados tantos anos, dez ou quinze, (...) saí da Taverna na Vila Madalena e transpus o portal duplo do Tempo” (p. 143). A afirmação da homossexualidade do narrador é alegorizada pela transição gradual de uma relativa obscuridade, na primeira parte do conto – “no escuro da noite (...) a lua encoberta de nuvens” (ps. 142-143) –, para um anseio por luminosidade, na segunda parte – “abrindo os olhos como querendo enxergar melhor” (p. 143) –, sendo também acompanhada pela substituição da ambientação medieval por um cenário com marcas da contemporaneidade (“pufs”, “blues”, p. 144). Construídos com domínio técnico e prazer, os contos de Lima Trindade exibem um escritor seguro de seus objetivos.

Tuesday, September 08, 2009

ROCKCITAL

acabamos por não acompanhar a Pastel de Miolos no show de domingo em Feira de Santana, frustrando nossos (três ou quatro) fãs do interior... já na capital, o Rockcital de sábado passado foi formidável. desta vez com guitarra e não violão eletrificado, Allison botou Kátia Borges e os autores do Corte para suar... o volume do microfone estava meio baixo, mas a proposta do evento se consolidou definitivamente. o lance é aproximar a produção literária local do público, de uma forma lúdica e descontraída, com a diversão como princípio. já temos um nome em mente para ser o próximo convidado e uma data aproximada em vista... mais notícias no momento oportuno. enquanto isso, fiquem com o vídeo abaixo, uma amostra do que rolou na Midialouca sábado passado. as fotos da noitada também estão no ar, aqui + aqui.




"ROCKCITAL"

Com Pastel de Miolos, Lima Trindade, Sandro Ornellas, Wladimir Cazé e Kátia Borges
Músicas: "Opressão", "Esperar sentado" e "Indústria da seca" (Pastel de Miolos)
Guitarra: Allisson Lima
Baixo: Alex Costa
Bateria: Wilson Santana
Filmado na Midialouca, Rio Vermelho, Salvador, Bahia, Brasil, 5 de setembro de 2009

Tuesday, September 01, 2009

Fim de semana na estrada: LITERATURA + ROCK em Salvador (sábado, 5/setembro) e Feira de Santana (domingo, 6/setembro)

Além de mais um “Rockcital” na Midialouca (Rio Vermelho), em Salvador/BA, no próximo sábado (5 de setembro), às 18h, os escritores do Corte (eu + Sandro Ornellas + Gustavo Rios + Lima Trindade) também farão uma participação especial no show do trio punk rock Pastel De Miolos que acontece no dia seguinte (domingo, 6 de setembro), no festival Setembro Rocker, a partir das 15h30, em Feira de Santana (CSU, Cidade Nova), a 100 km de Salvador. É a primeira vez que levamos para o interior da Bahia nossa fusão de fragmentos da literatura urbana de Salvador com o som enérgico e pesado da PDM. Minhas inserções literárias (com trechos de um longo “prosoema” eternamente in progress) ocorrem nos instrumentais das músicas “Nova utopia” e “Indústria da seca” (aqui, um vídeo com performance do show anterior). Apareçam!

5 de setembro (sábado)

ROCKCITAL: Corte + Pastel de Miolos
às 18h
Midialouca (R. Fonte do Boi, 81, Rio Vermelho, Salvador/BA, tel.: 71-3334-2077)
Com: Kátia Borges + Leonardo Panço (Jason) + Pastel de Miolos + Sandro Ornellas + Gustavo Rios + Lima Trindade + Wladimir Cazé
Entrada franca


6 de setembro (domingo)
FESTIVAL SETEMBRO ROCKER
A partir das 15h30
Centro Social Urbano (CSU), Cidade Nova, Feira de Santana/BA
Com: Pastel de Miolos + Sandro Ornellas + Gustavo Rios + Lima Trindade + Wladimir Cazé + Família Incondicional (Feira de Santana) + Sivirino (Feira de Santana) + Ladrões Engravatados (Camaçari) + The Pivo's (Camaçari) + Dynastia (Salvador)
Ingressos: R$ 10 + 1 kg de alimento
Informações: 75-9955-7726 / 75-8847-6640