Thursday, December 27, 2007
Monday, December 10, 2007
contemporânea "uovo" (turim, 498 páginas, 2 cds de áudio), catálogo de criadores que incorporam a discussão ambiental a seus trabalhos, em experiências interessantes, como a
information, labour and products on the global scale"...; "the so called 'precariats' (who seem to be free, mobile and flexible, but in fact are often overloaded and living and working under unstable conditions)"...; "the expanding territorial experience of being in transit or of being between homes, or of being (provisionally or permanently) homeless"...; "the attempt to create one's own necessity and rhythm of mobility" (BINNA CHOI, sul-coreana);
3. de LEE PATTERSON, que comprime sons gerados na água (por algas)
e no ar (por aviões) na faixa "ox bow pool & airliners", terceira do cd
"ecology, luxury, degradation" - "environmental sound as an intersection with the unknown, the macro-world of humans and the micro-life within which they are enveloped" (tradução aproximada: "o som ambiente como uma interseção com o desconhecido, o macromundo dos humanos e a microvida dentro da qual eles são englobados"), David Toop, p. 327;
Monday, November 26, 2007
Wednesday, November 21, 2007
Tuesday, October 23, 2007
Wednesday, October 10, 2007
agenda
1) "Lire en Fête (Festa da Leitura)”, evento da Aliança Francesa Salvador que tem como tema a leitura e terá pesquisadores da UFBA e escritores-blogueiros de Salvador na mesa-redonda "Universo literário na internet", sobre as possibilidades do blog como ferramenta de publicação de literatura. Na terça-feira, 23 de outubro, às 19h, na Sala de Conferência.
2) "Painéis da Literatura Contemporânea na Bahia", evento semanal com novos escritores de Salvador. Dividirei a mesa com o prosador Gustavo Rios (meu amigo há uns 10 anos, e que estreou há pouco com o inquietante volume de contos "O amor é uma coisa feia") e a poeta Lita Passos. Falaremos sobre nosso percurso de leitores a escritores, qual a importância de escrever para nós, nosso método criativo, etc. O mediador é o professor de literatura na UFBA e excelente poeta Sandro Ornellas. Será na quarta-feira, 24 de outubro, das 15h às 17h, no Labimagem do Instituto de Letras da UFBA.
Dado o aviso, conto com a presença dos leitores deste blog (se é que eles existem). Para arrematar o post autopromocional, uma foto (por Ana Paula Boni) do homem gabiru em seu habitat natural:
Tuesday, September 18, 2007
[Excertos do caderno “Fernando Pessoa”:]
Vôo Brasília-Salvador, depois de reunião de treinamento na empresa, numa passagem tão rápida, desta vez, que mal pude ver a cidade, ver mesmo no sentido superficial da palavra, apesar da varanda do quarto de hotel virada para o Eixo Monumental. (...) no que mais fiquei pensando foi o efeito da passagem do tempo na formação dos indivíduos, a forma como temperamento, origem, oportunidades, aptidões determinam nossas escolhas e nos conduzem por caminhos cujos desdobramentos não podemos prever. Quem seria eu hoje, se, no começo de dezembro de 1988, meus pais não tivessem me resgatado da falta de perspectivas de futuro do sertão pernambucano para terminar o ginásio na capital da Bahia? Que pessoa eu teria me tornado se eles tivessem dado ouvidos à minha sugestão de que a família não se mudasse para Salvador, mas para Brasília (influenciado que eu estava, aos 12 anos, pela geração de bandas de rock do Distrito Federal)? Penso sempre nisso, e (...) sinto que eu e Brasília temos "unfinished business" (negócios pendentes), ou seja, às vezes tenho a impressão de que ainda morarei nela um dia, em busca de uma parte de meu destino, que lá deixei de buscar, há quase 20 anos. Eu estava a fim do rock and roll, não estava a fim de estudar. Se não tivesse saído de Petrolina, teria sucumbido ao desterro de dias sem horizonte, de algum subemprego? Nem consigo imaginar o que teria sido não ter saído de Petrolina; não posso negar que quero o que não foi Brasília. Hoje Brasília já está favelizada. E por acaso não há degeneração em mim, exatamente agora, no instante em que escrevo isto? É impossível fugir da miséria? Ou teria eu progredido comercialmente em Petrolina, politicamente em Brasília? Trabalharia num jornal de cidade interiorana, na sede de um órgão da União? Teria eu caído pro lado da música, caso qualquer distúrbio físico não inviabilizasse tal possibilidade? As cidades se amoldam a seus habitantes e sabem estar ou não estar prontas para nos receber. Certamente que Salvador me acolheu e me catapultou para a cultura, mas, não sendo para mim o lendário lar definitivo dos que se aferram à pátria nativa ou a pátrias adotivas, Salvador também poderia ter me rejeitado! E como teriam se comportado Petrolina, caso continuada, ou Brasília ou qualquer outra localidade, caso para elas eu migrasse? Como serão as cidades para onde ainda irei?
Monday, September 17, 2007
O Porto
“Aquela gaivota sou eu e quem foge de eu é eu também”
(António Lobo Antunes)
1. Quatro badaladas abafadas na madrugada d’O Porto... Mas o som mais característico da cidade são os alaridos das gaivotas, que podem ser escutados até tarde da noite e permeiam a vida à beira do Rio Douro de águas verde-escuras, “que a certas horas lembra um rio de luz a correr” (Miguel Torga, Portugal). “O rio, liso e espelhado como uma chapa de vidro azul e verde. Uma extensa cordilheira de colinas, cobertas de pinheirais e desenhando no espaço vaporoso e húmido as curvas mais suaves e as perspectivas mais graciosas e mais risonhas...” (Ramalho Ortigão) “O Porto ergue-se em anfiteatro sobre o esteiro do Douro e reclina-se no seu leito de granito. (...) o seu aspecto é severo e altivo (...)” (Alexandre Herculano), “(...) espraiado na sua encosta, firme, amplo (...)” (Miguel Torga, Portugal) “Um eminente historiador de arte em Portugal disse que o Porto é essencialmente barroco. Se nos referimos ao tumultuoso aspecto exterior da cidade, quando de longe a vemos alevantar-se sobre fragas e arrojar estrada sobre os abismos do Douro, dramática e ardente (...), o asserto é verdadeiro. Mas, se o entendermos na essência do barroco, estilo artificioso e teatral do absolutismo e da contra reforma, o qualificativo é eminentemente impróprio. Visto em substância própria e histórica, o Porto é românico, franciscano e democrático.” (Jaime Zuzarte Cortesão, 1884-1960).
2. No Cais da Vila Nova de Gaia, com o cair da tarde, os anúncios luminosos das caves de vinho vão se acendendo, um por um, a longos intervalos: Offley, Sandeman, Calém, Noval, Ferreira, Cruz, Ramos Pinto, Cockburn’s, Dow’s, Graham’s, Delaforce, Croft, Taylor’s, Barros... Depois que a noite desce, as palavras formam como um poema concreto, se lidas da esquerda para a direita, a partir do Cais da Ribeira, n’O Porto: Calém, Noval, Sandeman, Delaforce, Croft, Taylor’s, Offley, Dow’s, Ramos Pinto, Barros, Cockburn’s, Cruz, Ferreira, Graham’s, Fonseca...
Thursday, September 06, 2007
Lisboa
PRIMEIRO ATO
“(…) capital do nada”
(Miguel Torga, Diário VI)
“Lisboa é um peso na memória”
O Airbus 330 da TAP “Pedro Álvares Cabral” foi a nave que me levou, por cima de um oceano Atlântico sacudido por “zonas de turbulência”, ao Velho Mundo. O Aeroporto de Portela de Sacavém, a sete quilômetros do centro de Lisboa, inaugurou há poucos dias seu segundo terminal e é “um aeroporto que, oficialmente, só tem mais uns anos de vida” (segundo artigo de Miguel Sousa Tavares publicado na edição de 11 de agosto de 2007 do jornal Expresso). Planeja-se um novo aeroporto para a capital portuguesa, em local ainda não escolhido.
Quarteirões vazios de carros e de gente nesta manhã de sábado, em torno da Praça Marquês de Pombal, centro financeiro de Lisboa. Do alto dos jardins do Parque Eduardo VII tenho minha primeira visão do rio Tejo, de “estuário largo e majestoso, fundo e aconhegado” (Miguel Torga, Portugal), ao fim da colina suavemente inclinada por onde desce uma avenida Liberdade ampla e arborizada. Sigo por essa via em direção ao “cais do mundo” e meus olhos então
“(...) Começam de enxergar subitamente
Por entre verdes ramos várias cores,
Cores de quem a vista julga e sente
Que não eram das rosas ou das flores.
Mas de lã fina e seda diferente
Que mais incita a força dos amores,
De que se vestem as humanas rosas
Fazendo-se por arte mais formosas”
(Luís de Camões)
São elas, as viajantes de muitos lugares e línguas, vagando no circuito entre as praças dos Restauradores e do Comércio, à beira-rio, em meio às “pombas turísticas, que afinal não voam e só servem para sujar o mosaico” (Miguel Torga, Portugal).
No miradouro com uma estátua do gigante Adamastor e uma vista para a ponte 25 de Abril, fico-me sob o sol escaldante a beber um chopp (aqui se diz “imperial”) da marca Sagres, quando surge um bando de ianques e franceses com crachás da Microsoft, cheiro de protetor solar e carrinhos-de-bebê. O esbanjamento de euros da classe média do continente em férias de verão, propiciado pela forte moeda comum, convive paficamente com pobres pedintes por toda parte, como, por exemplo, na rua Augusta, que se mostra um tanto decadente, os pilantras mercando drogas à porta de restaurantes caros cujas sardinhas têm uma aparência estranha (suas entranhas são estranhas) e parecem ter sido pescadas num esgoto da baía de Setúbal – “no mar”, conforme venho a saber pelo garçom brasileiro. (E então, pá!? Há muitos brasileiros garçons.)
No feriado da Assunção de Nossa Senhora (15 de agosto), a situação no bairro de Belém chega a ser intolerável: turistas, em flagrante excesso, picnicam na Praça Afonso de Albuquerque e deixam lixo no jardim público, sujam o Tejo com garrafas de plástico, cacarejam interjeições estúpidas e congestionam lanchonetes e acessos a sítios históricos, uma horda desordenada de saqueadores de paisagens, fotografando e filmando com compulsão.
Para livrar-me por um momento os ouvidos e as vistas de suas presenças, fecho-me na guarita frontal direita da bateria alta do Baluarte do Restelo (a Torre de Belém, ou de São Vicente, fortificação construída no início do século XVI para a defesa da barra do Tejo), logo acima das águas verdes brilhando ao sol alto, bem diante das fraldas verdes da margem sul do rio, os “arvoredos da outra-banda” (Alberto Pimentel, Fotografias de Lisboa, p. 21), onde são terras de Almada, fruindo o vento frio que vem do leste e segurando com força a folha em que escrevo para que não voe. Os minutos passam e não me mexo, sentinela a espreitar um possível ataque inimigo que porventura surja a montante, e eu insisto mais alguns instantes na função de defender este silêncio e este sossego tão a custo conquistados, no cais de onde partiram as frotas que descobriram o caminho das Índias (1498) e o Brasil (1500).
Depois subo as vielas estreitas, inclinadas e labirínticas do antigo bairro árabe de Alfama, até o Castelo de São Jorge, de onde se tem a vista mais privilegiada do centro histórico da cidade, os telhados avermelhados do casario da Baixa, do Chiado e do Rossio se distribuindo calculadamente, entre as praças do Comércio e Dom Pedro IV, em quarteirões simétricos, à frente de tudo, o Tejo azul-claro imenso e manso, sobre cuja “toalha límpida (...) cai a luz a jorros (...)” (Miguel Torga, Portugal)...
Eis “Ulíssia” (cidade de Ulisses), a “Alis Ubbo” dos fenícios, a “Olisipo” dos romanos, a “Al Uzbuna” islâmica do século XI, precursora da globalização, “terra de encruzilhadas da História” (Miguel Torga, Portugal), “cidade da opulência, do tumulto e da pobreza” (Alberto Pimentel, Fotografias de Lisboa, p. 122).
“(...) É Lisboa um mar profundo
De vária navegação;
É um compêndio do Mundo,
Aonde tudo acharão;
Ásia, África, Europa,
Nova Terra, Mundo novo;
Comércio, nobreza, povo,
Tudo se anda a vento popa.
Ali achareis o Indiano,
o Japão, o Pérsio, o Chim,
o Turco, o Mouro, o Marrano,
o Moscovita, o Estrelim;
Ali o dano e o proveito,
Bem, mal, gostos e trabalhos,
Festas, músicas e balhos,
O singelo e o contrafeito. (...)”
(André Falcão de Resende, 1528-1598, Cancioneiro de Lisboa – Séculos XIII-XX, vol. 1, Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa)
“Toda esta gente que, de partes várias,
Correndo por caminhos diferentes,
(...)
Assim se junta nessa triunfadora
Cidade do larguíssimo Oceano;
(...)
Nessa do Mundo principal Senhora,
Que ao Céu levanta o nome Lusitano;
Por armas suas uma Nau pregoa,
Que dois corvos discorrem, popa à proa.”
(Vasco Mouzinho de Quevedo, 1575-1620, Cancioneiro de Lisboa – Séculos XIII-XX, vol. 1, Publicações Culturais da Câmara Municipal de Lisboa)
SEGUNDO ATO
“(...) às vezes sou cativado por uma
(Noé Sendas, artista plástico
Dois corvos. O brasão da cidade de Lisboa é representado do seguinte modo: “um barco negro realçado a prata, por fora; no interior do barco é preta realçada de negro. Os mastros e cordas são de negro com uma vela ferrada de cinco bolsas de prata. À popa e à proa dois corvos negros. Leme negro realçado de prata. O barco está assente num mar representado por sete faixas, onduladas, sendo quatro de cor verde e três de prata. Coroa mural de ouro de cinco torres. Ostenta ainda o colar da Torre e Espada. Listal branco com os dizeres a negro: ‘MUI NOBRE E SEMPRE LEAL CIDADE DE LISBOA’.” (Gentil Marques, Lendas de Portugal, Porto, 1965, vol. IV, ps. 157-164.)
Os dois corvos recordam o episódio lendário das aves que, em 1173, dizem ter sinalizado o local onde estavam ocultas as relíquias do mártir São Vicente de Saragoça (morto no ano 304), que tinham sido levadas por cristão fugitivos de Valência (aquando da ocupação da cidade pelo muçulmano Abderrahman I, primeiro emir da península Ibérica, onde reinou durante 31 anos), inicialmente para o Algarve, ao sul, onde o depositaram no promontório que então passou a ser conhecido como Cabo de São Vicente, e depois para Lisboa (aquando de sua reconquista pelo cristãos liderados por Dom Afonso Henriques, em 1147), onde o puseram na Igreja de Santa Justa, depois na Sé Catedral, até que o terremoto de 1755, com o incêndio que provocou, tudo levou e destruiu. (Gentil Marques, id., ibid.)
TERCEIRO ATO
“(…) sendo uma viagem uma novela em
(Alberto Pimentel)
“A good traveller is one who does not know
(Lin Yutang)
GAIVOTAS 3
Duas gaivotas se cruzam
num cais, possível esquina
ou desacerto de ruas,
e o céu é duplo, cinzazul.
Como a noite vem, severa,
separar suas venturas,
produzem sílabas ásperas,
rogos, avisos, perguntas.
(do livro “Macromundo”, 2010)
Wednesday, August 29, 2007
Sobre o oceano chove,
e a pesca fica difícil
para um bando de gaivotas
que foge em busca de abrigo.
O vento, a água fria
irritam as aves alvas,
sob os telhados altivas,
grasnando deveras bravas.
Thursday, August 23, 2007
Uma gaivota marota
arremete contra o mar,
faz elegantes manobras
navegando pelo ar
e toma o rumo do campo,
do porto, da praia,
lançando por onde passa
gritos? gozos? risos? vaias?
Monday, August 20, 2007
Friday, August 10, 2007
Tuesday, August 07, 2007
A MINA
é a primeira e única no uso do premiere.
é a fada-madrinha do corte e da montagem.
é a mina de ouro do grão de prata.
é a maestrina da sétima arte.
os efeitos que ela provoca são muito especiais.
faz mojica encontrar smetak.
faz eutímio entrar nos trilhos.
ela tem título de bruxa.
fez mágicas em mais de um vídeo.
e, para finalizar,
vamos reconhecer
que temos que nos render,
nos renderizar a seus poderes.
Friday, July 27, 2007
going global
Brazilian Airliner With 150 on Board Missing Over Amazon
Friday, September 29, 2006 RIO DE JANEIRO, Brazil — A Gol airlines jet with around 150 people aboard was missing Friday over the Brazilian Amazon after a midair collision with a smaller executive jet, Brazilian aviation authorities said.
Wladamir Caze, spokesman for the Brazilian aviation authority, said Gol flight 1907 left the jungle city of Manaus and disappeared after a collision.
(...)
Tuesday, July 10, 2007
"é muito bom poder viajar com a mente e o coração abertos, dispostos a tudo e a todos, a uma entrega irrestrita. só assim é que é bom, só assim a gente passa pela experiência transformadora que toda viagem turística deveria proporcionar, a de ser o outro - mesmo que por alguns momentos apenas" (Renata Dantas, colaboradora do http://blogpresenca.blogspot.com/)
Wednesday, June 27, 2007
que eu não lembrava mais
surgem e se misturam
com novas idéias musicais.
O som que sai
da caixinha de som
influencia o som
que sai da caixa de som maior.
Subitamente,
essa atmosfera escapa
e giramos em torno do nada,
sem rumo.
Continuamos procurando
o que não sabemos
por entre quadras e horas.
Calipso energia.
Só falta a cerveja.
Friday, June 22, 2007
QUINTA JORNADA
o cordelista antonio vieira abre a semana do cordel, na biblioteca pública do estado da bahia. na palestra "no metal da fala: a complexidade de meu folheto popular", ouço atentamente a dica da professora jerusa pires ferreira (puc-sp): "para estudar e perceber a complexidade de um simples folheto de cordel, é necessário conhecer diversas matrizes culturais, como: as modalidades narrativas do cancioneiro medieval português, italiano, francês, etc.; o ritmo natural da língua portuguesa; componentes mitológicos do conto popular universal; a história imediata ou antiga do local onde o folheto foi criado, etc.".
ela diz que o título da palestra se inspira numa fala do cordelista joão martins de athayde, que declarou em entrevista à imprensa: "eu não invento nada, apenas ponho as coisas no metal da fala".
a professora edilene reaparece na cena com o curso "três autores da literatura de cordel na bahia", sobre cuíca de santo amaro, rodolfo coelho cavalcanti e minelvino francisco silva. algo que ela diz numas das aulas gruda em meu pensamento: "na literatura de cordel, a influência da escrita se dá de forma apenas parcial, porque as marcas da oralidade se afirmam".
dona edilene comenta a dificuldade que sente, como pesquisadora, em decidir por apenas uma única denominação para compreender fenômeno ou fenômenos que pode ou poderiam ser nomeados de formas tais como "literatura de folheto", "literatura de cordel", "literatura popular em verso" ou "literatura oral" - tendo enfim optado por "literatura de cordel", como suspensão provisória do problema conceitual.
a palestra hoje é sobre minelvino francisco silva, nascido em 1926, em olhos d'água de belém, no município de mundo novo, bahia. morou muito tempo em itabuna, bahia, onde, como poucos cordelistas, tinha tipografia própria. como muitos, o primeiro folheto com que teve contato foi o romance d'"o pavão misterioso" (josé camelo de melo rezende), fato ocorrido em 1939. o primeiro folheto que minelvino publicou foi "a enchente de miguel calmon e o destino do trem de água baixa" (jacobina, bahia, 1949). outros títulos de minelvino: "abc de lampião pelo próprio punho", "os sofrimentos de um bahiano no estado de são paulo", "carnaval no inferno", "a chegada de getúlio no céu", "a morte do presidente getúlio vargas".
a professora edilene insiste num mote de minelvino: "a marreta da morte é tão pesada que a pedreira da vida não aguenta".
imediatamente em seguida a isso começa a
SEXTA JORNADA (CODA):
acordamos outra vez e as notícias começam a chegar, compromissos e guerras, praia hoje a qualquer preço, mesmo o corpo sujeito a intempéries. uma placa no parque ambiental do manguezal do rio passa-vaca informa: "prefeitura trabalhando: recuperação das áreas verdes das margens do rio jaguaribe". vou para a pedra-palco no anfiteatro da areia e do mar, caminhos de pegadas, as ondas roçando a orla como unhas em pele alheia, nuvem, tu vem, passeando na partitura, no vento, tempo de convívio [a saga continua...]
Friday, June 15, 2007
Tuesday, June 12, 2007
Profissão: turista
Confesso que durante algum tempo quis me preparar para essa profissão. Tive o melhor exemplo dentro de casa. Entre os 8 e os 12 anos de idade, percorri vários estados do Brasil acompanhando meus pais, que sempre gostaram e continuam gostando de viajar. Nessas viagens, de carro (por Pernambuco, Bahia, Paraíba, Ceará, Piauí, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Alagoas) ou de avião (para São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba), comecei a desenvolver o gosto por conhecer lugares novos, pessoas diferentes e tradições culturais diversas.
A vocação estava no sangue e, depois dos 20 anos, peguei a estrada sempre que juntava algum dinheiro: Chapada Diamantina, Recife, França. A cultura e a história de cada lugar, além da diversão, é claro, foram sempre o que mais me atraiu nessas viagens. Numa guinada da vida, acabei aceitando um emprego só pela oportunidade de morar em outra cidade. Morei três anos e meio em São Paulo, que eu já conhecia de visitas breves e me assustava tanto quanto fascinava, justamente por ser tão diferente do mundo que eu conhecia até então. Durante o tempo que passei lá, minha visão de mundo precisou se adaptar à dinâmica própria de uma metrópole mundial e ganhou uma noção ampliada de horizonte de possibilidades, tanto nos aspectos pessoais quanto nos profissionais. Acredito que esse é um dos ganhos que o turismo proporciona: uma amostra de como é a vida num lugar que não é o nosso.
Agora sou um jornalista em tempo integral, a serviço de um aeroporto internacional que tem taxas de crescimento de 20% ao ano, impulsionadas principalmente pelo turismo (fonte: Infraero). Os corredores do Aeroporto de Salvador respiram turismo, nas agências e casas de câmbio do térreo, nas lojas de artesanato e moda afro do primeiro piso, nas filas diárias dos check-ins dos vôos internacionais. Esse é um turismo que ultrapassa o Centro Histórico e Sauípe, e vai muito além, pelo interior e pela costa da Bahia. Sei de muita gente que chega pelo aeroporto e, sem nem pisar na capital, vai direto pra outras praias, ilhas, baías.
Quero finalizar esse depoimento manifestando que dedico ao Recôncavo baiano um profundo respeito, típico de um turista profissional (ou profissional do turismo) por um roteiro que ainda não conhece. É o respeito de um explorador diante de um tesouro intocado. Não vejo a hora de investigar suas reentrâncias.
(Texto para a revista "Expedição")
Tuesday, June 05, 2007
São muito bonitas as imagens do Porto da Barra, do Comércio, do Campo Grande e do Rio Vermelho quase em estado inaugural, ainda sem a ocupação desenfreada que, no século passado, eliminou trechos de mata, poluiu rios (Rio Vermelho, Rio das Pedrinhas) e modificou o casario popular.
Benjamin R. Mulock, Camillo Vedani, Marc Ferrez e J. Schleier são alguns dos fotógrafos estrangeiros que trabalharam na Baía de Todos os Santos na época e foram incluídos no livro. Fica difícil detalhar a riqueza de informação sobre a cidade que a obra pode oferecer se folheada com vagar. Vai abaixo um exemplo.
Guiherme Gaensly fez uma imagem dos casarões (que não existem mais, substituídos por prédios de escritório) da Rua Nova da Princesa, no Comércio, atual Rua Portugal - onde trabalhei no verão de 1999.
Além de Salvador, outras cidades do Recôncavo aparecem, como Cachoeira (por Vedani) e Santo Amaro (por Mulock) . "Bahia - velhas fotografias" tem ainda mapas, apresentação de Kátia Queirós Mattoso e o artigo "Velhas fotografias da Bahia, 1858/1900", de G. Ferrez.
Merecem nota extra as fotos das cachoeiras de Paulo Afonso (BA), no Rio São Francisco (três imagens, nas páginas 16 e 17), feitas pela comissão geológica (Hartt, Derby, Rathborn) patrocinada por Pedro II entre 1875 e 1876.
Wednesday, May 23, 2007
Friday, May 18, 2007
boas notícias nessa sexta-feira:
1) meu vídeo "Cais em Petrolina e Juazeiro" já pode visto no Youtube;
2) um dos poemas de "microafetos", intitulado "Geração", inspirou um novo blog, Fênix em Repouso, da minha ex-colega de faculdade, redação e ONG, Ana Fernanda
Tuesday, May 15, 2007
Wednesday, May 09, 2007
Thursday, May 03, 2007
O FILÓSOFO
"Ele chegou descontraído,
chegou filosofando num tom de voz meio angelical"
(Jorge Ben, 1976)
Ele viu os quatro cantos,
andou no mundo inteiro,
passou por países tantos,
fechou o ciclo completo
ouvindo o que os sábios dizem:
espiritismo, koan zen,
rosa cruz, hebraico, sânscrito.
Depois começou falando
de nossas auras pessoais:
o Príncipe africano,
a Sacerdotisa do bando,
Cazé dos sons ancestrais...
Tudo tem o seu lugar,
ele nos fez enxergar.
Monday, April 30, 2007
a noite aqui é tão doce
referindo-se à cor do céu
e depois retirou-se,
antes que eu
lhe respondesse
desapareceu,
deixando-me um problema
e este poema.
Saturday, April 07, 2007
O cinema que encantou Salvador
O surgimento e a difusão do cinema como modalidade de lazer na Bahia entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX é o assunto de "Fazendo fita: cinematógrafos, cotidiano e imaginário em Salvador, 1897-1930", livro do historiador Raimundo Nonato da Silva Fonseca. O trabalho, produto de dissertação de mestrado em história pela Ufba, é um relato de história social e urbana focado na Salvador do período de formação da República, marcado por transformações políticas, urbanísticas e culturais aceleradas. Analisando crônicas, reportagens e artigos de
jornais e revistas, o autor oferece um panorama da maneira como o cinema foi recebido pelos baianos e de como o meio, embora combatido por alguns intelectuais, foi usado como instrumento de modernização dos hábitos da população.
Quando o cinema chegou ao Brasil, encontrou um público que procurava padrões de etiqueta e moral compatíveis com o projeto de modernização do país, defendido pela elite política e econômica no poder. Enquanto as cidades eram higienizadas e reurbanizadas, hábitos de diversão e lazer mudavam, com a introdução de esportes (regatas, ciclismo) e a moda dos cassinos (um dos quais funcionava no Teatro Gregório de Mattos). Os filmes que chegavam às salas do Cinema Bahia (Rua Chile), do Cinema Ideal (Ladeira de São Bento), e do Cinema Guarany (atual Glauber Rocha, inaugurado em 1919 como Kursaal Baiano), dentre outros, apresentavam personagens e modelos de comportamento considerados "modernos". "Até a primeira Guerra Mundial, quase todos os filmes que chegavam à cidade eram, além de mudos, europeus, principalmente franceses, dinamarqueses e alemães", aponta o escritor.
Embora Salvador tivesse então um calendário de festas extenso como o de nossos dias, alguns setores no poder não reconheciam nas manifestações populares um lazer "civilizado" e combatiam a influência africana sobre a cultura local. "Naquele momento, o que se queria era 'civilizar a população', e isso significava 'desafricanizá-la'", analisa Fonseca, lembrando que o Carnaval com blocos afro enfraquecia a cada ano e passou a ser feito com desfile de "sociedades", bailes e carros temáticos.
Na prática, o cinema não transformou os costumes, mas se incorporou às festas e ao cotidiano. "Ir ao cinema se associa a outros hábitos, como caminhar pela Rua Chile para ver as vitrines das lojas, prática que surge nos anos 20. Até então, a rua, não sendo espaço para pessoas de família, era freqüentada apenas por escravos e trabalhadores", informa Fonseca, que atua como professor da Uneb em Santo Antônio de Jesus.
Influência imediata
A chegada do "cinematographo" em Salvador, em 1897, pouco menos de dois anos depois da estréia mundial em Paris, foi um dos principais eventos do ano, juntamente com o Carnaval e a recepção popular aos soldados do Exército que voltavam dos sertões vitoriosos na guerra contra Canudos. A primeira sessão pública de cinema da Bahia ocorreu em 4 de dezembro, um sábado, no Theatro Polytheama Bahiano, que ficava
no prédio onde hoje está o Instituto Feminino. Na programação, curtas-metragens, praxe naquele tempo: "O beijo", "O Minueto de Luís XV" e "Visão d'arte", dentre outros.
Como Raimundo Fonseca narra em seu livro, a nova invenção fez grande sucesso e em pouco tempo exibições de filmes se tornavam freqüentes (organizadas, na falta de salas apropriadas, em teatros, confeitarias e circos, além de projeções ao ar livre). Uma casa reformada em 1909 foi o primeiro espaço criado exclusivamente como sala de cinema. Além dos cinemas do Centro, surgiram na Cidade Baixa salas com entradas mais baratas (Fratelli Vita, Cine Popular) e, em Brotas, o Petit Cinema. Dentre as películas de produção local, havia imagens da Festa do Bonfim, do Carnaval de 1920 e o documentário "A indústria do fumo na Bahia" (exibido em abril de 1921 no Guarany e no Teatro Politeama).
O livro mostra que a influência do cinema no comportamento se refletiu no traje, na maquiagem ou na atitude de figuras que circulavam pelas ruas de Salvador, como as "vamps", ou "melindrosas", que escureciam os cantos dos olhos para ficarem parecidas com a atriz Thedda Bara. Os homens, por sua vez, faziam o estilo "almofadinha", inspirado em Rodolfo Valentino e outros astros da sala escura, que davam nome a peças de roupa: a camisa de listras pretas se chamava George Walsh; as de xadrez preto, Eddie Pollo.
Friday, March 16, 2007
aos primeiros sons de um dia novo, destruiu-se a estação da lapa. eu vi tudo de um banco de cimento da biblioteca que no quase-pesadelo existia. era um avião laranja. ele veio em direção às plataformas vazias na madrugada e desapareceu no buraco. o clarão subiu. um estrondo abafado.
pela forma como se deu a queda, as pessoas que estavam a bordo não poderiam ter sobrevivido. perplexo (como em todo sonho), mas lúcido (na medida em que um sonho o permite), tentei pensar em que atitude tomar. avisar os amigos dos jornais. acordar o chefe com a notícia. esperei que meu telefone tocasse.
a lapa é um declive, alguém falou. a gente não sabe como está esse solo, ainda mais depois das obras do metrô aí embaixo. melhor irmos embora daqui agora. de fato, vi de relance a terra se derramando e expondo as galerias da grande construção.
liga pra tua mãe e fala pra ela e teu irmão tirarem tudo que é importante do apartamento e irem embora de lá, rápido.
algo começava a se perder na cidade além das vidas daquelas pessoas que não conheci. quem seriam? de onde vinham? como estariam, fora do sonho? naquela viagem imaginada, destino e origem se confundiam, como na vida de qualquer um de nós.
Thursday, February 15, 2007
Monday, February 05, 2007
'VOCÊ PRECISA DE STATUS'."
[trecho do conto "Skecthes", de Patrick Brock, publicado caderno "Dez!" do jornal A Tarde, Salvador/BA, 30/01/2007.]
Monday, January 08, 2007
no silêncio do quarto que me emprestaram, ouvi o notebook nervosamente esbravejando jazz através de seus baixo-falantes, conectei por um cabo o áudio da máquina ao meu sony de estimação e o som assomou, agora está perfeito. as influências de morar em salvador começam a impregnar minhas sensações, continuo tentando concatenar as idéias de acordo com meu sistema de pensamento misto urbano-arcaico, vou procurando interagir com os novos enredos que se superpuseram à cidade que eu conhecia tão bem, minha pessoa já participando dos desdobramentos imprevisíveis dos encontros e reencontros, involuntariamente me entrego à maré de veraneio que envolve a capital, impaciente para inaugurar de fato a época que vim viver, imagino ligações difusas entre outros tempos e este tempo de interrogações que se dissolvem e abrem espaço para noções estáveis e conceitos aparentemente mais claros, quero consumir o passado, que ele passe rápido e seja o início de algo ainda incerto. estou alerta e gostei de voltar.