Silva horrida - Guia de cidades

DESCRIÇÃO PRÁTICA E POÉTICA DO TERRITÓRIO OCUPADO

Thursday, November 30, 2006

A ópera apoteótica do profeta operário

escrevi a 4 mãos, com um compadre soteropaulistano, a resenha abaixo (créditos ao fim do post):

Entre luzes chapadas e microfonias ensurdecedoras, surge o profeta Tom Zé, com sua inteligência verbal e sua extravagância tropicalista (sim), na Concha Acústica do Theatro Castro Alves, em Salvador, numa tarde de domingo, ao terceiro dia de setembro do ano de 2006. O senhor gabiru de quase 70 anos começa a bradar pelo microfone suas ladainhas para jovens cabeçarati, rastafaris culturais e remanescentes da 5ª Parada Gay de Salvador. A banda aparece e a primeira música do show é "2001", música gravada pelo menestrel de Irará em 1968, em parceria com Os Mutantes.
Tom Zé diz:
- "Pára tudo. Agora vamos tocar a opereta-pagode. Esse show é do meu CD do ano passado: ‘Estudando o pagode: na opereta segrega mulher e amor’. Resumo da história: o homem está desanimado, andando maltrapilho, macambúzio. A mulher ficou independente, muito exigente.
É por isso que o homem aqui está vestido de mendigo."
Ele aponta para Jarbas Mariz (percussão, cavaquinho). Fala:
- "Tá vendo esse sujeito? Tem cabimento um músico se vestir assim, um marmanjo desse?"
Justamente por nada ter cabimento é que o “mendigo” Tom Zé está ali,
um brasileiro que o povo conhece bem! Entretanto, é curioso que a
pobreza
só tenha conquistado alguma apreciação no universo cult através de um
porta-voz que precisou recomeçar sua carreira nos Estados Unidos para
se realizar profissionalmente enquanto autêntico compositor maldito da música popular brasileira.
Seguem-se as harmonias tensas e aparentemente caótico-dissonantes
que o ex-aluno de Koellroutter e de Smetak na Escola de Música da Universidade Federal da Bahia criou para as composições da opereta-pagode. Canções difíceis, onde diversos ritmos de samba comparecem radiografados pelos sismógrafos da vanguarda e do repentismo atemporal. Entreouvimos estilhaços de samba-de-roda, samba-canção, samba-enredo e bossa nova (citados na letra Antonio Carlos Jobim, Baden Powell, Vinicius de Moraes, Menescal, Nara Leão).
Ele aponta para Luanda (vocal) e Cristina Carneiro (voz, teclados). Fala:
- "A mulher, não! A mulher aqui na ópera está vestida de operária!"
O argumento encenado prossegue, o homem propõe um tratado de paz com a mulher, para que vivam juntos. Brigam de novo. Nova reconciliação. Segue o baile.
A partir de um momento que não conseguimos lembrar, Tom Zé dá início
a uma sequência de canções do disco "Estudando o samba" (1976), reconstruído em comemoração a seu aniversário de 30 anos: "Hein?"
(Tom Zé/Vicente Barreto), "" (Tom Zé/Elton Medeiros), etc.
- "Em outubro deste ano, eu completo 70 anos! Vamos comemorar!"
A saga melódico-sentimental continua com um belo apanhado de composições conhecidas no universo cult. Pelo menos uma delas foi a pedido do público, a gritos e palmas: "Parque Industrial" (hino tropicalista gravado duas vezes em 1968: em "Tom Zé", seu primeiro álbum individual, e no antológico "Tropicália ou Panis et circensis", com Gal, Caetano, Gil, Duprat, Mutantes, Nara et alli.):

- "Retocai o céu de anil
Bandeirolas no cordão
Grande festa em toda a nação.
Despertai com orações
O avanço industrial
Vem trazer nossa redenção.

Tem garota-propaganda
Aeromoça e ternura no cartaz,

(...)

Porque é made, made, made, made in Brazil!!!."

Tom Zé de novo:
- "O Ministro da Cultura Gilberto Gil me convidou para fazer um discurso
na ONU e eu vou fazê-lo aqui, para ver se vocês aprovam” - anunciou o velho profeta, às vésperas das eleições, prestes a rasgar seu terno de velcro durante a apresentação da música-discurso ‘Politicar’, do disco
Com defeito de fabricação’ (1998).
Tom Zé de novo:
- "Pára, que essa música já tá chata! Vamos tocar outra!”
Mais do que maestro do espetáculo, o comandante do palco se anima mais ainda e lança um desafio para o público:
- "Todo mundo diz que baiano é inteligente! Quero ver agora! Vamos compor uma estrofe AGORA! Se preparem!"
Na velha tradição do improviso!!?? Nos perguntamos, já arriscando
adivinhar o tema musical que ele escolheria para pôr mote. Era... como é mesmo
o nome? “Jimmy renda-se”: “Lá-lá-lá-lá-lá-lá-lá láááá!...” Que letra será que ele vai cantar em cima?...
A tarde parecia não ter fim, consideradas a quantidade de bis concedidos
e a disposição física e criativa do artista, que gesticulava e se movimentava sem parar. Mas promessas ficaram não-cumpridas, a música que ele propunha que criássemos coletivamente naquele exato momento teve que ser adiada, porque a produção avisou que o horário estava encerrado, encerrado, encerrado...
A galera ficou com um gostinho de saudade na saliva, misturado com a realização de ter presenciado uma apoteose rara.
Vale ressaltar que, para participar do evento, foi necessário doar um livro e que Tom Zé fez questão de fazer sua doação no palco, entregando o seu “Tropicalista lenta luta” (publicado em 2003) – por sinal, uma ótima dica de leitura para quem quiser sentir a presença do artista durante mais algum tempo.

Wladimir Cazé
wladimircaze@gmail.com
&
Toni Couto
tonicouto@hotmail.com

Saturday, November 25, 2006

tudo certo no curto-circuito salvador-são paulo

Saturday, October 14, 2006

ENTRE OS CHACAIS

Quando fiz 30 anos, passei uns dias no flat-estúdio d'Os Chacas, dois amigos músicos que estavam montando uma banda de hard-rock e blues. Era época de renascer através da música depois de longo tempo no exílio. Havia uma relação de irmandade entre nós, feras caçadoras migratórias, e enfrentávamos juntos os obstáculos de todos os tipos com que a grande metrópole nos hostilizava.
Tínhamos uma guitarra novinha em folha, um baixo surrado, um violão folk. China apareceu com um amplificador de três canais e o deixou conosco, emprestado. Ele e Bolla apareciam nos ensaios, davam palpites. Goodgroves e Chaca eram músicos versáteis, virtuoses do groove. O plano era colonizar Rua Augusta e Vila Madalena, precisávamos descobrir como. Colamos em bares estratégicos de Pinheiros um anúncio:
- "Guitarrista e baterista
procuram baixista
e vocalista que tenham
influências de
hardrock e blues
para
formar banda.
"
Nunca aparecia ninguém por causa do anúncio.
Quando Goodgroves desenhou um lobo estilizado e pagou um tatuador para copiá-lo em seu braço, a gangue toda o imitou, menos eu, para não poluir minha carne. Pouco tempo depois, Goodgroves, Chaca, China, Bolla, a hoste inteira ostentava em alguma parte do corpo, como um brasão familiar, a figura do cachorro selvagem do arizona, altivo sobre as quatro patas, a cauda longa de pêlo eriçado. Para simbolizar meu pertencimento à alcatéia, imprimi a logo do lobo com tinta dourada e apliquei-a às costas de minha jaqueta de couro. Ficou sensacional.
- "Colé, chaca?"
- "Beleza, chaca?"
- "'B'ora, chaca!"
Todos nos chamávamos de "chaca", como um sobrenome. Eu zanzava pelo apartamento abrindo latas de cerveja e rabiscando letras de canções, enquanto Goodgroves & Chacal implementavam o velho e bom rock'n'roll clássico britânico. De orelha em pé, olhos em posição de rapina, narinas em riste, escorregávamos no espaço hiperdimensional como nossos ancestrais espreitando presas sob a luz ciano de lua cheia sobre a areia: o computador sempre ligado, horizonte perenemente penetrável.

Wednesday, August 23, 2006

QUARTA JORNADA

TAPEROÁ, BAHIA, 15 DE JULHO DE 2006

para gina leite

neste interlúdio estamos em viagem para a região conhecida como costa do dendê, no litoral baiano. lá o barro mói meus ossos. a possível presença de animais me assusta e penso em voltar para a estrada de baixinhas. o medo me paralisa no meio do mato. não conheço mais as plantas, não lembro os nomes delas. ultimamente só sei de elevadores, telas, tabelas, cronogramas. sexo, jogo e drogas é nosso negócio. volto para a igreja de são miguel arcanjo. é sábado e, de cada aparelho de som ou rádio de pilha, saem forró eletrônico, tecladeira arrocha, bolero breganejo, reggae, pagode, um rock do nirvana. à entrada de uma choupana, três garotos jogam sinuca improvisando com bolinhas de gude numeradas com papel e varetas em lugar de tacos, sobre uma tábua lisa equilibrada numa lata de tinta grande vazia. "ô, cab'a arruinado!", ouço dizer um deles, talvez se referindo a mim. o saneamento básico é precário. a cidade é pobre em tudo. taperoá, tapera-guá, "habitante de taperas" (ruínas em tupi). taperoá eu também.

o município se originou de uma aldeia indígena, são miguel de taperoguá, assediada por jesuítas a partir de 1561, a igreja de são brás edificada sobre colina na margem esquerda do canal do salgado, entre o mangue e terras de zona da mata insalubre, visgo massapê. no cais, uma faixa convida a "cuidar do lixo! lugar de lixo é no lixo!".

na sala de estar da morada-mosteiro, os aprendizes falam sobre a sonhada antena parabólica e zapeiam na tevê a cabo do padre: filme americano legendado, um pouco de boxe peso-pena, flamengo 3 x 1 paraná, um pouco de tênis. pergunto se a cidade tem uma banda filarmônica: foi desativada há algum tempo. pergunto quem é o maior poeta local: morreu há um mês. a globalização foi perfeitamente incorporada ao cotidiano quase medieval de taperoá, mas sequelas proliferam.

Monday, August 14, 2006

TERCEIRA JORNADA

termina a entressafra do pós-são joão. no eixo magneto, da avenida magalhães neto, pela avenida tancredo neves, e mais além, no norte da pituba afora, o crescimento imobiliário vibra, a programação cultural dá sinais de recuperação, a agenda se ativa, os sete sentidos se aguçam, viagens apontam no calendário, navios cargueiros orbitando na baía como astros no mar negro universal é o que se vê nesta noite da janela do apartamento-instalação, minha camisa-cartum recheada de carne do sol.

de pára-quedas caio no colóquio de literatura baiana, na academia baiana de letras. assisto apresentações de trabalhos de estudantes universitárias: "o melhor de anísio: retratos do recôncavo baiano na produção literária de anísio melhor", de ionã carqueijo scarante (aluna da uneb), "a lírica de ruy espinheira e suas interseções", de antonia torreão herrera (ufba) - com o poeta "in presentia" - e "poesia e prosa de arthur de salles sob análise textual", de rita de cássia ribeiro de queiroz (uefs) e maria da conceição reis teixeira (uneb).

dentro da programação da 28ª edição do curso castro alves, a professora edilene matos (puc-sp) apresenta a palestra "castro alves ao som da viola: folhetos, cantores e cantadores", sobre a recepção não-acadêmica à obra do vate grapiúna (1847-1871), citando exemplos em paródias, sambas-enredo de carnaval, literatura de cordel, discografia da música popular brasileira. na literatura de cordel, o ciclo biográfico castroalvino começa com "a vida de castro alves" (1947), do alagoano rodolfo coelho cavalcanti, que a pesquisadora considera o folheto mais antigo a versar a trajetória do poeta baiano. outros poetas que cantaran castro alves: patativa do assaré, cuíca de santo amaro, francisco das chagas batista e jorge de lima ("castro alves - vidinha", 1952). para edilene, castro alves foi um "poeta muito próximo da oralidade espontânea dos cantadores repentistas e poetas de bancada", o que pode explicar a escolha de seu nome como patrono da ordem brasileira dos poetas da literatura de cordel, fundada por rodolfo coelho cavalcanti na década de 1960.

Saturday, August 12, 2006

AS EDIÇÕES K E A FLIP 2006

Quatro autores publicados pelas Edições K nos dois anos de existência da editora comparecem no primeiro número revista Outros baratos, lançada durante a 4ª Festa Literária de Paraty/RJ (FLIP).

Marcelo Benvenutti, Delfin e Wladimir Cazé foram à 2ª FLIP, em 2004, e lá apresentaram ao público os primeiros títulos da editora.

2006 a plenos pulmões, eles agora participam da revista Outros Baratos, lançada pelo sebo Baratos da Ribeiro para divulgar este novo momento da nova literatura emergente. Distribuída gratuitamente nos dias da 4º FLIP, Outros baratos inclui os contos de Delfin ("De como caí no inferno segundo Grant Morrison") e Marcelo Benvenutti ("O medo de atravessar a rua ") e o poema "História", de Wladimir Cazé.

Outros autores na Outros baratos: Mayrant Gallo ("Dizer adeus", contos, Edições K, 2005), Mara Coradello, Mariel Reis e os portugueses Pedro Freitas Branco e José Couto Nogueira. A revista foi editada pelo casal Maurício e Daniele Gouveia, diagramada por S. Lobo (Mosh) e ilustrada por Timba, Felipe Guga, Paula Jardim e Vinícius Mitchell.

Revista: Outros Baratos (40 p., 15cm x 27 cm)
Preço: distribuição gratuita (durante a 4ª FLIP)
Contato: (Rua Barata Ribeiro 354, Copacabana, tel.: 2549 3850 / 2256 8634)
www.baratosdaribeiro.com.br

Saturday, August 05, 2006

SEGUNDA JORNADA

uma pentax optio s-45 me suga definitivamente para dentro da era da imagem digital. o diário de viagem silencia, o olhar ultrapassa a escrita. as palavras agonizam no monitor mental. fico letárgico por um tempo, incapaz de formular uma frase com início, meio e fim. fotografias se sucedem obsessivamente, favelas, cartões postais, cenas domésticas. dias pacíficos gravados em memória flash. a claridade do céu e cores em abundância são o alfabeto com que tento esboçar uma história. os instantes congelados pela tecnologia funcionam como anotações esperando para serem organizadas em uma sequência coerente, seja ela confessional, seja documental.

por exemplo: largo de santo antônio além do carmo, centro histórico de salvador. uma placa na praça informa que a prefeitura está trabalhando na "recuperação" da igreja de santo antonio, onde em 1683 "o conde de bagnuolo oppoz a maior resistência à invasao hollandeza de mauricio de nassau, repellindo com denodo os ataques de 21 de abril e 13 de maio".

um mutirão comandado pelo artista plástico caetano dias (baiano de feira de santana e ex-funcionário do pólo petroquímico de camaçari/BA) começa a construir um muro com açúcar derretido (melado) na esquina da rua dos carvões com o largo de santo antônio. trata-se de uma intervenção urbana em área pública intitulada "canto doce", interdição da calçada entre um poste e um casarão meio em ruínas (com um par de orelhões da telemar no meio) por uma mureta feita de oito sacas de açúcar cristal safra 2005/2006. acompanho os preparativos tomando cerveja no antoniu's bar e restaurante, na rua dos perdões, e olhando distraidamente a disputa pelo terceiro lugar na copa (alemanha 3 x 1 portugal). o jogo acaba. volto à esquina para assistir a preparação do melado e a montagem do trabalho. moradores e transeuntes aparecem para ajudar. crianças arrodeiam os fogões improvisados com perguntas e gracejos. o açúcar derretido escorre das caldeiras, por um funil, para dentro das armações de madeira que servem de fôrma para o muro. o açúcar derretido desce entre duas armações de madeira e se acumula, se solidifica, endurece aos poucos e aos poucos esfria. chega um senhor chamado acaçá e começa a ajudar também. ele está visivelmente bêbado. agora o muro de açúcar está pronto, mas ainda quente. senhor acaçá se admira ao vê-lo, gelo de água suja, água dura marrom. acaçá brinca com a obra, finge que vai socar o muro de açúcar, ri. naquela noite o artista dias interviu, acaçá interferiu, eu vi tudo e a foto de acaçá fingindo formiga a morder é minha.




Exposição de esculturas e fotografias de Caetano Dias. Galeria de Arte Marília Razuk (av. Nove de Julho, 5.719, lj. 2, Jardim Paulista, região central, tel. 3079-0853). Seg. a sex.: 10h30 às 19h. Sáb.: 11h às 14h. Abertura 7/8. Até 26/8.

Monday, July 24, 2006

PRIMEIRA JORNADA

não foi em salvador que acordamos, passarinho desconhecido bicando o vidro da janela da casa de praia. demos um giro no condomínio decadente, perigando levar um tiro ou algo pior. as ruas eram vazias, todos em suspense pelo que viria a ser não a revanche, mas a debacle brasileira em frankfurt (frança 1 x 0 brasil). avistei um avião sobrevoar o mar, mas ele não me transportou à realidade da rotina. eu já tinha ultrapassado os limites do bambuzal santo. adentrava agora a costa dos coqueiros.

uma avenida litorânea no bairro de brocas nos levou à capital. crateras no asfalto. vi um amigo músico sorrindo num outdoor. cheguei ao lar e montei o escritório temporário. é reconfortante perceber que os lugares permanecem existindo à distância, que, mesmo quando não estamos lá, eles estão à disposição, à espera de uma visita. a vida própria de uma cidade se desnuda com menos pudor para quem volta de meses longe. bairros inchando. novos empreendimentos mudando a paisagem. tudo isso salta aos olhos com maior nitidez para o recém-chegado, num encontro simultâneo com o conhecido e com o desconhecido.

o sol apareceu e saímos a passear no centro, penetramos a festa dos 183 anos da independência da bahia (2 de julho de 1823), a "pugna imensa" (Castro Alves, "Ode ao Dous de Julho"). a baía de todos os santos emoldurava o dia. capoeiristas, caboclinhos e vaqueiros evoluíam na praça tomé de souza. o grupo lindro amor, de santo amaro, rita da barquinha, de saubara, e pequenas bandas filarmônicas de municípios do recôncavo marchavam animadamente. o personagem popular jayme figura, trajando restos reciclados de couro, metal e tecidos, rondava o cortejo. apareceram um candidato a presidente (cristovam buarque, PDT) e um candidato a senador (antonio imbassahy, PSDB). pairando sobre o largo da igreja do rosário dos pretos, a marca brasil/país de todos, da gestão lula.

a equipe da ong centro de referência integral do adolescente (cria) me presenteou o folheto de cordel "2 de julho - uma revolução popular" (autoria coletiva):
"No dia 7 de setembro
o Brasil teve alforria
mas não aconteceu
a independência da Bahia
foi dado o primeiro passo
de nossa cidadania
"

na tarde de 4 de julho, um telão no pátio do instituto cultural brasil-alemanha/instituto goethe/icba exibe o jogo itália 2 x 0 alemanha. encontro nikiel e joão coruja na mesa 1, onde também estão o dono do bar (alemão) e repórteres dos dois principais jornais da cidade (a tarde e correio da bahia). a torcida alemã é maioria absoluta no local, enquanto eu e meus amigos torcemos pela itália. estando em território adversário, surge entre nós alguma apreensão quanto a comemorar ou não um eventual gol da itália. já nos últimos minutos do segundo tempo, fazemos grande alvoroço quando grosso abre o placar. logo depois, del piero marca o segundo gol da itália, eliminando a seleção alemã da final da copa do mundo.

gina me leva à festa de aniversário de sereno. "afrociberdelia" tocando sem parar. fotos da nasa num slideshow. jonga chega, pega o violão e mostra uma música de sua banda (sambalada eletrônica). uma mistura errada de skol choca, cachaça ruim e vodca começa a deteriorar meu sistema digestivo. meu estômago se estufa e dói. desencadeia-se o pesadelo gástrico. desapareço durante 48 horas.

Thursday, June 22, 2006

vista de moema, 17º andar: o quadrilátero fatal de meus paulistanos anos: a logomarca da abril em pinheiros cinzentos, o relógio do itaú na pedra augusta, a torre escolar no paraíso concreto, a rota de pouso para a rocha-congonhas. síntese visual de 1.001 dias e noites

Friday, June 09, 2006

Ana Paula Maia comenta o lançamento carioca

Wednesday, June 07, 2006

"Domingueiras ano 2 - Fotografias" (textos de Antônio Risério, fotos de Gina Leite, Kau Santana e Valéria Simões) apresenta imagens da cultura popular (música, folguedos, culinária, artesanato) em 10 municípios do interior da Bahia, como Nova Soure e Valença. o projeto Domingueiras existe desde 2003 e é realizado pela Platina Produções e Eventos Culturais, com o apoio da Coelba e da Ebal, através do Programa FazCultura do governo da Bahia. em Salvador, o livro está à venda nos dois endereços abaixo:

Beco de Rosália - Bar Cultural, Galeria e Pizzaria
Rua General Labatut, 137, Barris
Tel.: (71) 3328-2417

Casa da Photographia
Rua Eurycles Mattos, 140 (térreo)
Praia da Paciência, Rio Vermelho
Tel.: (71) 3248-9797 / (71) 3491-3975
adm@casadaphotographia.art.br

Wednesday, May 31, 2006

Drummond lê "Microafetos"

Saturday, May 13, 2006

mais um mês de julho terminava na tríplice fronteira
bahia-pernambuco-piauí e eu, paulo silva da silva, guia de cidades, planejava a migração definitiva de petrolina para a petrometropolina metropetropolina, a silva petrea petrificante do sudeste da nação, meus dois livros publicados, o amarelo e o preto-azulão, sobre a cabeceira da cama ao lado da última foto de kafka apavorando meus sonhos, no juízo
a idéia de levar para a grande capital um drum'n'ba-meu-boi, bicho dançador de alumínio e duas lâmpadas, vontade de falar o acre estilo, quando enfim, vendo minguar recursos, me resolvi descambar tabuleiro acima rumo à paulicéia em transe, vindo eu de poucas semanas de convício à humana raça, cabelos recém-cortados, meus olhos ainda se abrindo magoados à luz elétrica, não mais o sol os fustigando, notei uma premência superior despertar meus ossos para que percorressem o espaço em ebulição e
tudo o mais que acontecesse no itinerário à terra prometida, na ilusão de prosperidade,

Wednesday, March 15, 2006

candangalizado congonhas, congonhas do corredor congestionado, congonhas da arquitetura inquieta, da constante renovação espacial, congonhas-buraco-negro do PIB brasileiro, congonhas-não-lugar, congonhas-encruzilhada, convergência de itinerâncias, de interdições
e de fluxos, ziguezague "que sustenta o ser", congonhas da ciência, tabuleiro de xadrez onde me desloco enlouquecido, peão entre damas
e torres, eu-peça da imensa trama operacional, por turbina própria aquecido, pelo panóptico observado, no emaranhado das ramais de
telefone enrolado,

Monday, March 13, 2006

pelo lado da linha dura militar, tortura e truculência como meios de manutenção do poder; pelo lado da guerrilha de esquerda, ações terroristas de êxito questionável... um confronto ideológico em radicalização crescente por ambas as partes norteia "a ditadura escancarada", 2º volume da série de elio gaspari, leitura árdua (dada a crueza dos fatos) mas repleta de sugestões reveladoras, como a informação de que "em 1971, prevalece o extermínio [de militantes de esquerda pela máquina de repressão]" (p. 380), esclarecedora quanto à atmosfera de chumbo de parte da música popular gravada no período imediatamente posterior - certas gravações de tom zé ("todos os olhos", 1973), macalé (primeiro disco, 1972), alceu & geraldo (primeiro disco, 1972), clube da esquina (1972)... volume 3 já na cabeceira

Tuesday, January 31, 2006

versão em prosa deste texto, condensado e agora intitulado "pista", saiu na edição de hoje do caderno "Dez!" do jornal A Tarde [Salvador/BA], onde já publiquei "açougue 2", "cointreau", "tatuagem" e "silicone", episódios de uma saga agreste-escatológica na paulicéia em transe

Thursday, January 26, 2006

entre os verões de 2002 e 2003, morei na rua tenente pires ferreira, perto da ladeira da barra, em salvador, num apê que dividi com os muito-doidos patrick brock (sócio nas edições k), lika & jesiel (estudantes de letras). é dessa época o texto abaixo, publicado na edição de janeiro de 2006 do jornal "Gazeta da Vila Velha", que, além da barra, circula nos bairros vizinhos de graça, vitória e chame-chame:

BARRA

Caixa de papelão encostada no muro.
Com o vento, veio para a rua. Está no chão.
O dono passeia com o cão.
Contorna a praça.
A sala assa.
A pasta está na gengiva.
Da janela vigio.
Uma nua.
Duas.
Uma traz toalha.
Do outro lado eu olho.
Facho de sol na cozinha.
A veneziana é vizinha.
A menina que anda na bicicleta de manhã cedo é linda.
Pernas compridas.
A carreta empaca na saída.
A praia esfria.
A água chega. Chove no cimento.
Raspo a sola.
Areia fica dentro.

Saturday, January 21, 2006

- "vi você, cláudio, matando lânguida gente, rum por um."
- "a gente faz o que pode."
- "vi que estava armado."
- "a gente não está podendo andar armado. aquilo lá era um cabo de vassoura. tá embaçado trabalhar assim."

Wednesday, January 18, 2006

um post que lancei no blog coletivo-temático do ano passado foi publicado no xerox-zine "hoje não", distribuído em ônibus e ruas de salvador [segundo a editora katherine funke, algumas cópias também estão circulando em são paulo e brasília]. aproveito para convidá-los a conhecer o blog coletivo-temático de 2006, a ano da ovelha

Thursday, January 12, 2006

na "rápida retrospectiva" das leituras que fez em 2005, o colunista de livros do caderno "Dez!" do jornal A Tarde [Salvador/BA], Rodolfo S. Filho, ousou afirmar que "dos brasileiros, nada teve O Gosto do Novo, mas foi uma boa surpresa ver os poemas de Wladimir Casé - que já conhecia da internet - reunidos em livro (...)" . mesmo escrevendo meu sobrenome errado [é com "z"], o cara é bróder, essa foi a segunda vez que me citou [a primeira foi em setembro, numa resenha de "Microafetos" reproduzida posts abaixo ou neste link]

Tuesday, January 03, 2006

"a ditadura envergonhada", de elio gaspari, disseca a primeira fase do regime militar [1964-1969], as conspirações pelo poder dentro das próprias forças armadas, as manobras retóricas que tentavam legitimar o regime e as reações da sociedade civil ao golpe, numa reconstituição minuciosa [a partir de bilhetes, diários, documentos públicos e confidenciais, entrevistas, depoimentos, gravações] da atuação de personagens notórios e de figuras quase esquecidas pelo tempo; já comecei a traçar o segundo volume da série, "a ditadura escancarada"; alguém tem o terceiro, "... encurralada", e o quarto, "... derrotada", pra me emprestar?